quinta-feira, 24 de outubro de 2024

O Ferro de Ògún e a Ferrugem

 O Ferro de Ògún e a Ferrugem

Existe um mito do qual relata que a ferrugem é a inimiga do ferro, pois a mesma pode destruí-lo. Assim sendo, o Inimigo do Ferro passa a ser o Inimigo de Ògún.
Pois bem... acredito que não seja nenhuma novidade que os ferros forjados dentro dos assentamentos de Ògún, sejam besuntados com azeite de dendê. Alguns afirmam que este costume tem como finalidade “aplacar” o caráter violento do Deus do Ferro.
Claro que este costume tem fundamentação, pois entendo que uma das funções do azeite de dendê é justamente o de propiciar calma.
Entretanto gostaria de compartilhar com todos a análise deste costume de outro ângulo, ou seja, do lado da ciência.

A ferrugem é o resultado da reação entre o ferro e oxigênio. A união desses dois elementos forma um terceiro, o óxido de ferro, popularmente conhecido por ferrugem. Só que esse “casamento” não acontece tão simples assim. Ele necessita da ajuda da água.

O ferro só consegue se unir ao oxigênio do ar se o mesmo liberar elétrons, pois quando essas partículas de elétrons saem do metal, abrem espaço para o oxigênio entrar.

Só que os elétrons precisam de uma força para isso, é aí que a água entra. O líquido ajuda os elétrons a saírem do metal, como se os puxasse para fora. O caminho fica livre para os átomos de ferro juntar-se aos átomos de oxigênio, e darem origem a ferrugem.
Claro que nem é preciso jogar água no ferro para criar tal corrosão. O próprio ar da atmosfera, afinal, já vem carregado de umidade.
Dessa forma, podemos entender claramente, que o azeite de dendê forma uma película em volta das ferramentas de Ògún, que impede que o ferro entre em contato direto com a água e o ar.
Assim sendo, como não há ferrugem sem a presença dos dois, o ferro se salva.
Bàbá Guido Olo Ajagúnà

A SOCIEDADE EBÉ OXÓSSI

A SOCIEDADE EBÉ OXÓSSI

Babá Adetá Okanledê, africano que desempenhou um papel importante na fundação do Terreiro do Gantois, na segunda metade do Século XIX, foi o principal responsável pela fundação na Bahia de uma sociedade análoga ao Ẹgbẹ́ Olórí Ọdẹ, existente em Abeokutá.

Formada por cinco grandes chefes, seis caçadores (dignitários da direita) e seis assistentes (dignitários da esquerda) era conhecida na época como Sociedade Ebé Oxóssi.

A Sociedade Ebé Oxóssi embora mais antiga, tem perfil semelhante ao Aramefá de Oxóssi, preservado no Terreiro do Axé Opo Afonjá.

(O Candomblé da Barroquinha - Processo de constituição do primeiro terreiro baiano de Keto, de Renato da Silveira)


Baba Guido Olo Ajagúnà

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

A SINCERIDADE NO CANDOMBLÉ




O vocábulo sinceridade significa franquezalisuralhaneza.

A sinceridade é o traço do caráter ou da personalidade de um indivíduo. Ela é uma virtude que se traduz em uma conduta franca, verdadeira e leal, ou seja, uma mistura de franqueza e verdade.

Sinceridade é dizer o que você realmente pensa, mesmo sabendo que isso pode te prejudicar. Muitas pessoas não são sinceras porque sabem que se mentirem podem manipular uma pessoa e obter assim algum benefício.

Sincero é a qualidade daquele que diz a verdade, que não mente. Aquele que não disfarça sentimento ou o que pensa, que não tem intenção de negar a realidade.

“Por exemplo, se um amigo te pergunta se você gostou de determinada ritualística dentro do Candomblé e você diz que sim, mesmo pensando que não, isso é falta de sinceridade, o que podemos definir como antônimos de sinceridade, ou seja, falso, mentiroso e hipócrita”
Ainda existem aqueles que consideram a ausência da sinceridade ou a falta de coragem de dizer o que pensa como uma mentira boba, mentirinha, mentira piedosa ou mentira inocente que consiste em uma mentira com boa intenção, que é dita para não ferir os sentimentos de outra pessoa.

Ainda assim, a falta de sinceridade não deixa de ser uma mentira. Nesse caso, um dos exemplos mais frequentes é: "Eu não quero estragar a nossa Amizade de Axé", quando na realidade a pessoa quer dizer: "Eu não concordo com seus procedimentos ritualísticos".

Mesmo nas Redes Sociais aqueles que “curti ou comenta” Postagem ditas como Sinceras, podem se prejudicar. Na maioria das vezes passam a ser mau vistos, mau tratados e muitas vezes excluídos de certos círculos de amizades.


No entanto, é importante salientar que ser sincero não é ser tosco. Mas muitas das vezes, é impossível ser sincero sem magoar as pessoas quando expressamos as nossas opiniões ou até mesmo nossas críticas construtivas.

O sincero também pode, muitas vezes, se confundir com grosseiro quando levado ao extremo, mesmo sem a intenção de dissimular algo.
Mas quando a verdade não é agradável, ouvi-la pode causar mágoa profundas. Por isso que se deve ter cautela em relação ao teor de sinceridade que se usa nas falas, e isso posso dizer e afirmar com total propriedade.

Baba Guido Olo Ajagúnà

terça-feira, 16 de maio de 2017

ÒRÌṢÀ DOUTRINADO



A principio acredito que se faz necessário esclarecer, que o termo "doutrina" nesta postagem, refere-se ao "conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas, ensinadas e o conjunto das ideias básicas contidas num sistema filosófico e religioso.

Acredito que a primeira manifestação de um Òrìṣà, durante o transe de possessão de um neófito, dar-se de forma primitiva. De uma maneira mais clara, quem nunca viu uma ìyáwòrìṣà cair solo abaixo durante sua primeira manifestação? Quem nunca presenciou um ìyáwòrìṣà durante o primeiro contato com o seu Òrìṣà, começar a estrebuchar-se de maneira assustadora? 

Assim sendo, qual o procedimento a ser tomado nessas duas situações? Obviamente seria levantar o neófito do chão com as palavras “kí o dìde dúró" ensinando ao Òrìṣà, que em sua próxima chegada, evite de derrubar o corpo de seu filho no chão; assim como, "má ṣe fara ya" para aquele que se apresenta agitado.

A maioria dos Òrìṣà, sempre trazem consigo uma particularidade que os identificam. Porém, entendo que existe a necessidade de ensinar determinados atos e costumes. Lembrando que, ainda existem Àwọn Òrìṣà que não aceitam certos tipos de ensinamentos e se insistirmos, empacam feito burros (com todo respeito). Quem nunca presenciou um(a) iniciado(a) dançar maravilhosamente bem, enquanto sua Divindade "não tem pé de dança algum"?

Talvez nos dias de hoje, não vemos mais ìyáwòrìṣà desfalecer ou agitar-se convulsivamente quando uma energia tão poderosa toma o seu corpo pela primeira vez. Na atualidade podemos perfeitamente observar a primeira manifestação do Òrìṣà de forma dita como "polida ou lapidada", onde a denominada doutrina não se faz mais necessária. 

Baba Guido Olo Ajagúnà. 

quinta-feira, 30 de março de 2017

O TEMPO & O CANDOMBLÉ



Nossas vinte e quatro horas, não são mais suficientes para a nossa rotina de vida, por mais que nos organizamos, faltam-nos tempo para fazer tantas outras coisas que gostaríamos de realizar. 

Temos tempo para a nossa família, para o nosso emprego, para o nosso estudo e raramente temos tempo disponível para frequentar mais assiduamente um Terreiro de Candomblé. Quando digo assíduo, digo aquele membro que não chega apenas na hora da festa e vai embora quando termina a festa. Refiro-me aquele que chega para as funções que antecedem uma Festa de Santo. 

Tempo é tudo no candomblé. Inclusive temos uma divindade com o nome equivocado de "Tempo", do qual sabemos que na realidade se trata de um Nkisi com o nome de Kitembo ou Kindembu. 

O vocábulo tempo muitas vezes é usado de maneira positiva. "Todo o tempo que tenho disponível me dedico a minha religião, ao meu Òrìṣà e à minha Casa de Candomblé. Sempre reservo um tempo em prol da minha religião." 

Por outro lado a palavra tempo, é usada de maneira negativa. "Não tenho tempo para macumba, não tenho tempo para ir ao Terreiro de Candomblé, não tempo para isso ou aquilo." Mas a maioria tem tempo para ir em Terreiros Alheios. 

O tempo engrandece e satisfaz o ego de muitos, quando usados nas celebres frases: "No meu tempo não era assim" ou "Meu tempo é agora". 

O tempo cada vez mais escasso, tem feito mudanças em nossa religião, e a praticidade é uma das grandes responsáveis pela perca dos costumes e tradições. Por mais dolorido que sejam as frases tais como, "Não perco mais o meu tempo em fazendo isso ou aquilo" ou "No meu tempo se fazia assim, mas hoje não temos mais tempo para isso" temos que conviver com esta pratica tão comum nos tempos de hoje.  

Na maior parte das vezes, o ser humano quer fazer a sua própria vontade e receber as coisas no seu próprio tempo. Mas infelizmente o tempo de Ọlọ́run ati Àwọn Òrìṣà são diferentes dos nossos. Eles são perfeitos em tudo aquilo que fazem. Sabem quando é o melhor tempo recebermos certas coisas na nossa vida. Se for merecedor, simplesmente espere e confie. 

Em particular, compreendo que o meu tempo dedicado a minha religião, nunca é perdido. Mas tenho medo de já ter perdido muito tempo dentro do Candomblé. Tenho medo que seja cada vez mais difícil seguir em frente com o Candomblé tão mudado. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapuçar dentro de uma solidão.

De qualquer forma o tempo sempre será o tempo!

Baba Guido Olo Ajagúnà

terça-feira, 28 de março de 2017

Iniciação e Consagração no Culto aos Òrìṣà e as Falsas Promessas.


Infelizmente existem muitos Babalòrìṣà ati Ìyálòrìṣà motivando pessoas para crer em promessas que Àwọn Òrìṣà nunca fizeram nas suas Palavras e sim nas "palavras" daqueles que usam o nome de nossas divindades para benefício próprio. 

Obviamente que se Òrìṣà nunca as fez, não está comprometido em cumpri-las, mesmo tendo sido feitas em nome do sagrado. O perigo em qualquer religião do mundo é que as falsas promessas produzem frustração e muitos acabam se decepcionando, não com quem fez a promessa em nome dos Òrìṣà, mas com o próprio Òrìṣà e com o candomblé.

"Faça o Santo e tudo em sua vida se resolverá" Será???

Observe que entre Òrìṣà lhe dar as ferramentas para você resolver todos os problemas de sua vida e Mortais terem prometido em nome de Imortais milagres para a solução de seus problemas há uma grande distância.

Outra promessa bastante difundida em nome do Òrìṣà é a da prosperidade a todos os seus filhos. Para muitos o entendimento de prosperidade seria o carro do ano, mansão, casas de praia, empreendimentos altamente lucrativos e assim por diante.
Sabemos que a promessa de prosperidade alimenta a vaidade humana e a insaciável sede pelo ter, possuir e conquistar. 

Este tipo de promessa me parece muita estranha, porque se isto for a prosperidade do Òrìṣà, não teria ouvido da boca de grandes representantes de nossa religião que passaram necessidade e pouco souberam o que é ter fartura.

Tenho observado entre o Povo de Santo muitos de nossos irmãos frustrados com Òrìṣà porque não receberam aquilo que foi prometido antes de sua iniciação e consagração no culto com base em promessas de que teriam melhoras nas finanças, muitas vezes no relacionamento amoroso, as vezes na saúde, entre tantas outras promessas. O mais decepcionante de tudo, são aqueles que ouviram de seus Baba e Ìyá, que o não receberam as Graças das Divindades, pelo fato de não terem seguido corretamente os preceitos determinados pela religião e tantas outras chulas justificativas.

Baba Guido Olo Ajagúnà

Por que o ìyáwò não permanece na Casa de Candomblé?


Obviamente que na maioria das vezes Àwọn Babalorìṣà ati Ìyálòrìṣà irão dizer que não existe mais ìyáwò nos dias de hoje, não prestava para fazer o santo, que era um ingrato e tantas outras justificativas. Mas será que a culpa é somente do ìyáwò? Possa até ser que seja dele! Mas na maioria das vezes a maior culpa é dos próprios Baba e Ìyá, ou seja, os problemas estão neles.

Muitos são aqueles que no afã de se obter uma Casa de Candomblé com centenas de filhos e filhas de santo, não dão importância alguma quanto a questão de um individuo ter ou não a necessidade de uma iniciação dentro do Culto aos Orixás. Em uma colocação muito particular digo: "todos podem ser iniciados, mas nem todos nasceram para iniciar-se no candomblé".

Outro fator importante é quanto a questão de descartar a decisão do Òrìsà Dono do Terreiro, de aceitar o noviço em sua comunidade e se a Divindade Tutelar do noviço aceita o Baba ou a Ìyá para zelar dele e de seu filho(a).

Sem a necessidade de mencionar no fato de muitos sacerdotes e sacerdotisas de nosso culto persuadir pessoas com falsas promessas, inclusive usando as celebres e falsas frases: "Se você não fizer seu santo, vai morrer" e/ou "Se fizestes seu santo vai enriquecer". Também não vejo a necessidade de entrarmos em detalhes, quanto a questão do comportamento inapropriado de certos Lideres Religiosos e Religiosos.

Baba Guido Olo Ajagúnà

VIVER DECEPCIONADO É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA!


Assim sendo, prestes a fazer 54 anos de vida e 31 anos de iniciado e consagrado ao Òrìsà Ajagúnà, decide não mais viver em um Mundo de Decepções.

Fala-se que se você não quiser ser decepcionado, não confie nas pessoas. Mas como não confiar nas pessoas? Confiei em tantas pessoas e quando menos esperei a decepção me deu uma ligeira rasteira.

Acredito que a decepção é uma pinguela que devemos saber nos equilibrar para não ver o fundo do rio da tristeza. Porém, a mais profunda tristeza é ser decepcionado por alguém que jamais esperávamos ser enganados.

Tentarei evitar a decepção a todo custo, tanto aquelas que possam surgir de meus contatos sociais quanto religiosos. Mas se ela vier, e estou ciente que virá, mais uma vez a suportarei, afinal ela é uma praga que atinge a todos e como ser humano não estou livre dos infortúnios da vida.

Alem do mais, tenho comigo que a decepção é um adereço no pescoço da vida; uma coisa pela qual todos passam. Mas o pior de tudo é sentir a dor de uma decepção jamais esperada. As decepções me ensinaram grandes lições e me ajudaram a compreender o verso e o reverso da vida.

Procuro não decepcionar a ninguém, sigo minha vida falando e praticando a verdade, mesmo que essa seja apenas a minha verdade; não escondo meus defeitos e virtudes, sou o que sou, igual para todo mundo, há quem me gosta e quem me recrimina. Mas infelizmente não posso agradar a todos.

Baba Guido Olo Ajagúnà

quinta-feira, 23 de março de 2017

SEJA QUAL FOR A ESCOLHA. TEMOS DIREITO E DEVERES


Qual é a finalidade de pertencer à uma Casa de Candomblé? Aonde teus status e condições financeiras não tem influência tão pouco e poder sobre o Àṣẹ?

No qual você não pode decidir, quanto tempo será o período de reclusão para a iniciação e/ou quaisquer tipo de  obrigações. Não poderás, determinar suas divindades tutelares sobre  seus caminhos, e suas representações.

Não havendo chances alguma de comprar o cabelo, e muito menos barganhar o resguardo. Não existe possibilidades de propinas para se candidatar a um ou mais Oyè.

Não podendo se quer de forma alguma, em decidir o que será ofertado a sua divindade, e tão menos a roupa que ele(a), irá vestir e os adornos que irá usar. 

Que neste local aonde condições sociais não lhe dão o direito de indagar na inclusão ou exclusão de seus membros, e tão pouco, que qualquer um destes façam o seu trabalho dentro desta comunidade.

Dentro desta roça aonde existem direitos e deveres, o zelador é apenas o intermediário entre os homens e as divindades. Uma família de santo que deve seguir orientações e conselhos de seu Babalòrìṣà e a ordem de todos os Òrìṣà. 

Pois assim é a Casa de Candomblé "Ilé Ibùjọsin Àṣẹ Ajagúnà" - Terreiro da Casa Grande, onde existe respeito, religiosidade com lealdade, e liberdade não é confundida com libertinagem.

Baba Guido Olo Ajagúnà.

DE NADA VALE A VONTADE DO SANTO


Antigamente se perguntava para o Santo do Dia: O que ele queria? O que desejava receber de oferenda? Se queria festa e até mesmo se desejava vestir uma roupa nova? Hoje não existe mais isto, e se existe, é raridade! Penso que as pessoas se preocupam mais com o Povo de Santo do que com o próprio Santo.

Se o Santo disser que naquele ano seja apenas ofertado "comida seca", ou uma singela "lamparina", e nada de festa pública a pessoa entra em colapso. Imaginando o que o povo vai dizer. Estão mais preocupados com os falatórios e a opinião alheia (mexeriqueiros) de plantão, dizendo que não teve nada, por falta de dinheiro.

Muitos nem se arriscam em questionar o Santo, com medo das respostas que há por vir. Então começa a organização das festividades e decidem por sua conta e risco. Os bichos que serão sacrificados, as comidas que serão ofertadas, aos Santos; e ainda decidem o figurino e as indumentárias que o anfitrião deverá usar.

Ops!!! Eu disse anfitrião???
Mas, anfitrião não seria aquele que banca as despesas de uma festa e também é o dono da casa, que recebe os convidados para o evento?

Acredito que a denominação deste Santo em questão deveria ser denominado de Fantoche, Marionete, Boneco Ventríloquo, pois o mesmo estará e será manipulado pelo anfitrião ou melhor o dono da Casa de Santo. No final das contas, os aplausos tem que ser pra ele. E não, para o Santo.

Baba Guido Olo Ajagúnà

ÈṢÙ ESCRAVO DO ÒRÌṢÀ? NÃO QUE EU SAIBA!


Èṣù não esta privado de liberdade; não está submetido à vontade de um senhor a quem pertence como propriedade; não esta submetido à vontade de outrem e nenhuma espécie de poder ou força incontrolável.

Ele é um Ser Independente e não um Ser totalmente Dependente, que não consegue se livrar da influência e do domínio de qualquer outro Òrìṣà, que senão dos Domínios do Ser Supremo Olòdùmarè "e olhe lá".

Esse enigmático habitante dos dois planos de existências ọ̀rún - àiyé, não trabalha exageradamente, não vive entre mortais e imortais para simplesmente trabalhar e muito menos sem qualquer tipo de remuneração ou recompensa por seus trabalhos. Todo o trabalho que Èṣù for realizar, pagamento adiantado, as vezes uma barganha ou outra e poucos são aqueles que tem a graça de ouvir dele "depois você me dá um agrado"; o que se trata de um perigo eminente, pois pode ser uma cilada!

O "trickster" do Panteão Ioruba, não pode ser considerado um servo, que simplesmente trabalha como ajudante ou criado de outra Divindade. Para que algo mágico aconteça e resultados favoráveis apareçam, dependemos mais da Força de Èṣù do que do próprio Òrìṣà, ou seja, sua função junto a divindade é indispensável e insubstituível.

Então, que tal chamar Èṣù de Òjíṣẹ́ Òrìṣà - Mensageiro das Divindades ou invés de Ẹrú Òrìṣà - Escravo das Divindades? ou mesmo antes de dizer isso e outras coisas, que tal estudar um pouco de Teogonia Ioruba?

Baba Guido Olo Ajagúnà

O CANDOMBLÉ e a VISEIRA DE BURRO.


Conhecer o Mundo Religioso do Candomblé entre outras coisas é conhecer seus mitos e ritos. Desde da iniciação ouvimos as histórias contadas por nossos Mais Velhos, que as utilizam para nos explicar o que vemos e não compreendemos. A curiosidade do noviço, faz com que absorve em silêncio quase tudo, e muitas vezes não tendo a chance de perguntar absolutamente nada.

A questão é quando esse sistema de conhecimento baseado em “histórias únicas” prevalece e prossegue durante toda a vida de um religioso. Essas "verdades únicas" podem, num futuro não tão distante, se transformar em fonte de desentendimento, distância, estupidez etc etc etc.

Jumentos religiosos prisioneiros da viseira da burrice, dos estereótipos da versão única de uma história sobre um povo ou indivíduo, tendem agredir com palavras de descaso e chacotas. Sabemos o quanto de dor pode causar o coice de uma pessoa que se satisfaz apenas com o que ouviu falar ou o que disse um certo livro sobre tal assunto.

Ainda que relincho possam machucar, seriam problemas menores se no mundo humano correspondessem apenas a vocalizações desconexas. Mas sabemos que seres humanos são bons em transformar toda e qualquer coisa desconhecida em debates e questionamentos sem fundamentações básicas, além de violência verbal de personagens malditos como aqueles que tenho citado nos "posts de protesto" deste espaço.

Aceitar uma única versão sobre um fato, uma pessoa, um povo, uma história pode ser cômodo, pode ser o que o grupo do qual você pertença espere de ti. Mas se um coice seu doer em alguém, saiba que um dia o de alguém vai doer em você também.

A exemplos de minhas postagens que tem o objetivo de mostrar conceitos equivocados, que de gerações em gerações, entram na cabeça das pessoas como "histórias únicas" e para tirar as pessoas da cegueira e da ignorância”.

Ignorância tem cura. E essa cura passa pela curiosidade, ou menos exigente, pela não aceitação do que se ouviu uma vez ou de uma fonte apenas. Há vários níveis de “histórias únicas” dentro de nossa religião.

Porém, não as obrigo a retirar as Viseiras de Burros e não tenho como impedir que se assustem com tudo o que não esteja no campo de visão abarcado por essa indumentária imposta por alguns religiosos, fazendo de seus pobres seguidores, enxergar apenas seus costumes e tradições e não as que estão ao lado.

Se os jumentos com viseira dificilmente conseguem se livras das mesmas por meios próprios, é claríssimo que com seres humanos a coisa é diferente. De modo que pra evitar essas metáforas de jumentos, que tal deixar a preguiça de lado e no mínimo, conversar com aquele outro amigo religioso e procurar saber um pouco sobre os costumes e tradições, antes de ultra simplificar tudo e meter na gaveta do “Caso Encerrado: eu sei que a vida religiosa é assim e ponto final.”

Baba Guido Olo Ajaguna