Teria Sakpata imigrado para a antiga Nigéria
ou
Ṣọpònná imigrado para o antigo Dahomé?
Sakpata
entre os Ewe Fon e
Ṣọpònná
entre os Iorubas.
Divindades
distintas ou a mesma divindade cultuada de formas diferentes?
Visando e primando pela perpetuação do
culto as divindades de Panteão Ioruba, exponho neste tópico algumas informações
acerca de Sakpata, Ọbalùàiyé, Ọmọlu e Jagun Agbaba, para darmos inicio a
um intercâmbio maior sobre o conhecimento desta família da qual a denomino de Iji
Jẹpẹtẹwu ou mais
conhecida pelo povo de santo como A Família
Ji.
SAKPATA
Para um melhor entendimento, deveremos saber que no antigo Dahomé, existe uma divindade no Panteão Ewe Fon, denominada de Sakpata, o Vodun da Varíola... A etnia Ewe Fon e conhecida popularmente no Brasil pelo término Jeje e em Cuba por Arara... Da mesma forma que Ṣọpònná seu nome não pode ser pronunciado, seus adeptos o preferem chamá-lo de Ayinon “O dono da terra”... Sakpata pertence a primeira linhagem da família de Nyohwe Ananu uma Vodun que possui característica idênticas as de NàNá Burúkú... Os nomes mais conhecidos de Sakpata no Novo Mundo são Azontunu e Avimage... Segundo reza a tradição, um grupo expedicionário da região de Savalou que estavam ao norte do antigo Dahomé, encontrou os Kadjanu (nagôs vindos da região de Badagris) em Damé, as margens do rio Wèmé, os quais o seguiram até Savalou, levando com eles sua divindade protetora dos quais denominaram em língua Fon de Sakpata Agbosu... Em Savé, afirma-se que Ṣọpònná teria vindo do reino de Ọ́yọ́... Essa remota origem nagô-iorubá é sublinhada pelo fato de que os Vodunsi (iniciados) de Sakpata são denominados Anagonu, que significa forasteiro de onde se originou a corruptela nagô... Em Dassa Zoumé, Ṣọpònná é conhecido por Sakpata... Os Sakpatanon grã-sacerdotes do Culto à Sakpata tinham uma grande influência sobre a realeza, porém, os reis jamais tiveram muita estima pelos sacerdotes desse culto. O mesmo culto passou por momentos de aceitação e reprovação; foi restabelecido por várias vezes e em seguida proscrito formalmente, pelos soberanos do reino do Dahomé, da mesma forma que os Oluwo Ipopo, os Sakpatanon foram mortos e muitos expulsos do território do Benim.
ṢỌPỌNNÁ
Entre os iorubas Ṣọpònná é
temível e perigoso, divindade das epidemias, sobretudo a varíola, sua maior
arma de punição aos malfeitores e aqueles que o desrespeitam. As altas
temperaturas corpórea, seguidas de delírios causados pela infecção de doenças
contagiosas, não são mais do que sintomas da ira de Ṣọpònná
contra sua vitima. Quando temos alguma razão para pensar que um enfermo esteja
sob a manifestação maléfica de Ṣọpònná é descrito de Ilẹ̀gbóná – Varíola; Ìgbóná
– Febre ou até mesmo Ilẹ̀ gbígbóná –
Terra quente, ou seja, “a terra aonde o enfermo encontrasse está demasiadamente
quente” é a presença do Deus da Varíola e precisa ser apaziguado. Neste caso os
iorubas não pronunciam mais o nome Ilẹ̀ gbígbóná e
sim empregam um eufemismo e dizem exatamente o contrário Ilẹ̀ Tútù – O solo está frio, vertendo
água de dentro para fora da casa. Terrivelmente temido, seu nome não deve ser
pronunciado, sobre tudo perante aos enfermos, quando invocado é mais indicado
usar nomes com expressões adulatórias, como: Ọbalùàiyé – Rei e
Senhor da terra; Olùàiyé – Senhor da terra ou Oloòde
– Senhor dos espaços abertos. Quando um enfermo padece de qualquer doença
contagiosa e se crê que a causa seja Ṣọpònná os iorubás descrevem
a situação em términos de profundo respeito a divindade. Eles dizem Ó n
sin Ọba – Ele está sob a vontade do
Rei; Ilẹ̀ gbígbóná n bá a
jà – A terra quente há posto sua mão sobre ele ou a terra quente
o está afetando; Ó gb' ofá ou Ofá bà á – Ele atinge
sua vítima como uma flecha ou Ele foi atingido por uma flecha. Ṣọpònná
é descrito como Alápó – Alguém que maneja o temor e quando um
enfermo morre como resultado de sua aflições, usualmente não se diz Ó kú
– Ele morreu, se diz Ọba mú nlọ́ – O rei o o levou ou ainda Ilẹ̀ gbígbóná gbé e lọ́ – A terra quente o levou. Os mitos relatam que em dia
de sol escaldante, em especial ao meio-dia, Ṣọpònná está vagando
por todos os lugares e comumente se alerta a não usar o vermelho ao “sol a
pino” correndo o risco de insultá-lo, do qual teriam sérias conseqüências.
Deve-se ter cuidado, especialmente durante a temporada de seca, de não fazer
nada que o ofenda, A sòroó pè léèrùn – Alguém cujo nome não é
propicio se chamar durante a época de seca. Os antigos entendem desta forma
porque as maiorias das epidemias de varíola foram constatadas em épocas de
seca, além de que os iorubas crêem que Ṣọpònná esteja nessa época
particularmente ativo. Ṣọpònná é considerado feroz e muitas vezes
implacável, então não insultá-lo é a melhor prevenção de não ser molestado por
uma divindade tão perigosa.
Ṣọpònná é a única divindade de que sua vontade, qualquer que
seja sua manifestação, deve ser aceita, não somente com resignação senão com
uma manifestação de prazer e gratidão. Por exemplo, os parentes de alguém que
morre de varíola não deve se lamentar o mostrar que choram pela morte de um
ente querido. Em vez disto eles devem estar alegres e felizes e mostrar que
estão amplamente agradecidos pela atitude do Rei da Terra. Assim, Ṣọpònná
é conhecido por Alápadúpé – Alguém que mata e se agradece
por isso.
Sob seu absoluto domínio está a crosta
terrestre; o solo onde o homem habita, constrói, cultiva e deposita seu cadáver
após a morte; ele nutre os homens dando-lhes o milho e outros grãos do solo,
mas também os pune fazendo com que, através de suas peles, saiam os “grãos” que
eles comeram. Filho primogênito de Nà Bùkùú ou mais conhecida no
Panteão Ioruba de NàNá Burúkú. Seu maior companheiro, um
ancestral denominado de Ãle que habita o lado de fora de sua
casa; nada o faz sem antes prestar reverencia a ele; seu nome não deve ser
pronunciado após o pôr do sol. Na crença ioruba Ṣọpònná é a
“Destruição que surgiu em uma noite”.
A escassez de informações sobre a
origem do culto o mantém na obscuridade. Isso ocorreu devido ao fato deste
culto ser de caráter reservado e em épocas remotas era proibido falar sobre o
assunto. Acreditasse que se trata de uma divindade estrangeira, agregada ao
Panteão dos Iorubas ou do retorno de origem ioruba longínqua, levadas por uma
das inúmeras migrações em direção ao oeste da Nigéria e imigrações ao
país vizinho a Republica Federal do Benim, antigo Dahomé. Ao
pouco que se sabem, os antigos iorubas citam que Ṣọpònná teria
vindo do território Fon e outros que tenha retornado a suas terras de
origem, o território Iorubá... Na Cidade de Ketou há divergência
de opiniões quanto a origem de Ṣọpònná... Alguns acreditam que
tenha vindo a Ketou de Dassa Zoumé, segundo alguns, de Adja Popo,
segundo outros, de Aise e uma terceira opinião de Holi... Para um
melhor esclarecimento, as maiorias dos estudiosos afirmam que o Culto ao Deus
da Varíola, tenha sido oriundo do Leste Ioruba.
A Medicina Tradicional de se curar a
varíola denominado de Ẹ̀rọ
ou Oògùn Ṣọpònná era conhecido, entre os iorubas,
unicamente pelos sacerdotes de Ṣọpònná, que fizeram dele grande
comércio e elevaram a varíola à posição de uma divindade temível. Na qualidade
de representantes do “senhor e rei da terra”, os corpos e os bens das vítimas
pertenciam de direito aos sacerdotes de Ṣọpònná. Esses sacerdotes
mantinham em suas casas, cabaças com parte dos cadáveres da vítima da varíola,
tais como um braço ou pé; potes contendo um líquido escuro, feito com a água
extraída do cadáver ou da água que serviu para lavar o corpo, enquanto a pessoa
estava viva; recipientes com um pó escuro, proveniente das escamações secas,
deixadas pela varíola. Essa água ou esse pó eram jogados, durante a noite, na
frente da casa das pessoas a quem se quer infectar. Os moradores ao saírem de
casa, entravam em contato com os germes. Assim que uma ou mais pessoas da
família se contaminasse, a erupção da pele aparece e um sacerdote de Ṣọpònná
é convocado. Durante o tratamento Ẹ̀bẹ̀ – súplicas, preces eram
constantemente recitadas com a finalidade de propiciar e apaziguar a fúria de Ṣọpònná.
De dez sacerdotes do culto, nove ajudam
mais a desenvolver a doença do que interrompê-la. Era de seu interesse agir
assim, além de grandes somas que recebem, eles reivindica todos os bens do
doente, caso esse venha a falecer. Esses sacerdotes inescrupulosos retiravam os
cadáveres da casa, mas não o enterravam no bosque com de costume, a não ser jogá-los
no mato, onde os porcos os comiam e, algumas vezes, os pedaços do corpo eram
levados para as aldeias vizinhas, contribuindo para espalhar o mal. Assim os
sacerdotes faziam negócios muito lucrativos. Os sacerdotes que procediam de
maneira correta conduziam o enfermo ao templo de Ṣọpònná e lá os
sacerdotes os lavam com areia de praia quente e remédios secretos.
A História dos Iorubas em meados do
século XVIII relata que um surto de epidemia da varíola dizimou a população de Abeokuta.
Centenas de pessoas morriam todos os dias, metade da população fora atingida.
Os governantes locais realizam uma sessão e certo número de adeptos de Ṣọpònná
foram executados e outros expulsos, e suas casas incendiadas.
ỌMỌLULU ỌRỌGBO
Divindade que se funde ao culto de Ṣọpònná,
mas em muitas localidades não se confunde. A região de Kétou,
cidade fronteira entre a Nigéria e o Benim, é a única região em todo o
território ioruba onde Ọbalùàiyé e Ọmọlu são
considerados, ao que parece, como uma única divindade... Seu templo é separado
de sua mãe mítica NàNá Burúkú... Com essa mesma característica
ele é conhecido no Brasil, onde a influência Kétou é muito grande entre
os descendentes de escravos que para lá foram levados. Em Ile Ife não
existe culto à Ọmọlu e muitos ali o desconhecem. Contrário na
região Mahi, onde seu culto se destinge totalmente de Ọbalùàiyé.
Ao que se sabe, seu culto se originou do Oeste Iorubá.
A tradição local da Cidade de Topli,
no Togo, Ọmọlulu Ọrọgbo é considerado uma divindade
feminina, que saiu das águas segurando um ṣaṣara – emblema ritualístico e
em uma das mãos e um gbada – facão na outra. Este facão é uma
representação do crocodilo, animal sagrado entre as divindades dos rios... Em Abeokuta
Ọmọlu é considerado um Òrìṣà
feminino, onde o Culto à Ṣọpònná esta proibido desde 1884, divide
seu templo com NàNá Burúkú e a ambas as divindade, quando se
oferece sacrifícios de animais não se utilizam de facas... É possível que
existam duas divindades com o mesmo nome, um de cada sexo, conforme se verá...
Na cidade de Abeokuta, Ọmọlu é chamado de Olù
Odò –
Senhor do riacho (água) e Ọmọlu Òrìṣà omi ni – Ọmọlu é uma divindade das águas...
Esse riacho é conhecido com Odomọlu – o riacho de Ọmọlu e esta localizada em direção
ao poente.
De suma importância mencionar, que o
Templo de NàNá Burúkú esta voltado em direção ao poente e neste
são realizados as oferendas somente ao por do sol, da mesma forma que se
pratica nos Terreiros Tradicionais da Bahia.
Na Cidade de Aise, existe em seu templo
uma grande lança esculpida, denominada de Ọkọ Ọmọlu, na qual são
representados por três personagens superpostos, representando Òṣumare, o próprio Ọmọlu
e Iroko... Em Dassa Zoumé Ọmọlu é duplo,
masculino segurando um facão e feminino segurando um abẹ́bẹ̀ – leque e um irùkẹ̀rẹ̀
– ornamento de cauda de bovino. Seu culto foi trazido de Aja Aguna e
agregado em Dassa Zoumé na época do Rei Onigbo – quarto soberano
de Dassa Zoumé...
Nas proximidades de Atakpamé,
cidade do Togo onde existe um dos principais templos de NàNá Burúkú,
em uma aldeia igualmente chamada de Adja Agouna, existe um templo
dedicado à Ọmọlu Arawe uma divindade masculina... em outra aldeia
da região, conhecida por Gbekon, encontra-se um templo de sua
contrapartida feminina, denominada de Ọmọlu Idji Aguna... Nesta
região ambos os Ọmọlu são divindades totalmente distintas de Ṣọpònná
e o sacrifícios de animais à Ọmọlu Arawe e Ọmọlu
Idji Aguna são realizados sem que se utilize uma faca para imolar o
animal. Seus interditos são o vinho de palmeira no que se diferencia de Ọbalùàiyé
onde é ofertado este tipo de vinho...
AJAGUN AGBAGBA
Ajagun ou simplesmente Jagun é uma divindade
guerreira, originário de Ekiti Ifòn, pois acreditasse que sejam filhos
de um dos Òrìṣà Funfun.
Ao que se sabe é considerado um Guerreiro Branco... Considerado invencíveis,
por sua bravura e coragem, nunca perdeu uma batalha, o que lhe deu o título de Keledjegbe
– O Guerreiro Invencível. Ajagun se refugiou na Cidade de Ijena,
terras do temível Ṣọpònná, onde passa a ser agregado à família de Ọbalùàiyé
tornando-se um dos Guardiões do Culto do Deus da Varíola.
Importante mencionar que a cidade ioruba
Ijena ou Jena foi fronteira com o antigo Dahomé e outrora
um dos grandes centros de contacto e aculturação entre duas das maiorias etnias
da África os Ewe-Fon e os Yorubá.
Em território ioruba o descrevem
segurando uma lança – Ọkọ̀ em uma das mãos e um facão – gbada
na outra. Sua cor predominante é o branco e seus interditos são o vinho de
palmeira, cabe ressaltar que o vinho de palma é tabu para todas as divindades
da família de Òrìṣà-Nlá.
CONCLUSÕES
Não poderia nos tempos de hoje chegar a
uma conclusão definitiva a não ser a maiores questionamentos, sobre esses
diversos aspectos de Ọbalùàiyé, Ọmọlu e Jagun Agbaba:
Duas divindades de origem diferente
e pertencentes a antigos grupos culturais diferentes, divindades essas que
vieram uma do leste (Ṣọpònná)
e outro do Oeste (Ọmọlu), unindo e assumindo um caráter único
em Ketou ?
Trata-se de uma divindade única, de
origem ioruba e de origem Tapa (Nupe) mais longínqua, trazida para o oeste por
uma das numerosas e antigas migrações que as tradições mencionam, e do retorno,
em seguida, dessa divindade para seu ponto de partida, trazendo um novo nome,
que originalmente, não passava de simples epíteto ?
Seria Ọmọlu Idji Aguna divindade
feminina que saiu das águas a conhecida Nà Yyógbáyin já que a
ambos não se realizam sacrifícios com faca?
E quanto a Jagun, seria este Ọmọlu
Arawe divindade masculina, baseando-se pelo fato de ambos portarem um facão
em uma de suas mãos?
A grande lança na entrada do Templo
de Ọmọlu Arawe na Cidade de
Aise, não poderia ser a lança de Jagun?
Existem muitos mistérios em nossa
sagrada religião que jamais serão revelados. Sem ser pretensioso, às vezes
penso que nossa religião precisasse das “Areias do Tempo” a mítica
ampulheta que permitia viajar pelo tempo. Mas isso está longe de nós pobres
mortais.
Baba
Guido Olo Ajagùnà
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