quinta-feira, 7 de julho de 2016

SAKPATA vs ṢỌPỌNNÁ e outros mistérios perdidos no tempo


Teria Sakpata imigrado para a antiga Nigéria 
ou 
Ṣọpònná imigrado para o antigo Dahomé?

Sakpata entre os Ewe Fon e



Ṣọpònná entre os Iorubas.

Divindades distintas ou a mesma divindade cultuada de formas diferentes?


Visando e primando pela perpetuação do culto as divindades de Panteão Ioruba, exponho neste tópico algumas informações acerca de Sakpata, Ọbalùàiyé, Ọmọlu e Jagun Agbaba, para darmos inicio a um intercâmbio maior sobre o conhecimento desta família da qual a denomino de Iji Jẹpẹtẹwu ou mais conhecida pelo povo de santo como A Família Ji.


SAKPATA

Para um melhor entendimento, deveremos saber que no antigo Dahomé, existe uma divindade no Panteão Ewe Fon, denominada de Sakpata, o Vodun da Varíola... A etnia Ewe Fon e conhecida popularmente no Brasil pelo término Jeje e em Cuba por Arara... Da mesma forma que Ṣọpònná seu nome não pode ser pronunciado, seus adeptos o preferem chamá-lo de Ayinon “O dono da terra”... Sakpata pertence a primeira linhagem da família de Nyohwe Ananu uma Vodun que possui característica idênticas as de NàNá Burúkú... Os nomes mais conhecidos de Sakpata no Novo Mundo são Azontunu e Avimage... Segundo reza a tradição, um grupo expedicionário da região de Savalou que estavam ao norte do antigo Dahomé, encontrou os Kadjanu (nagôs vindos da região de Badagris) em Damé, as margens do rio Wèmé, os quais o seguiram até Savalou, levando com eles sua divindade protetora dos quais denominaram em língua Fon de Sakpata Agbosu... Em Savé, afirma-se que Ṣọpònná teria vindo do reino de Ọ́yọ́... Essa remota origem nagô-iorubá é sublinhada pelo fato de que os Vodunsi (iniciados) de Sakpata são denominados Anagonu, que significa forasteiro de onde se originou a corruptela nagô... Em Dassa Zoumé, Ṣọpònná é conhecido por Sakpata... Os Sakpatanon grã-sacerdotes do Culto à Sakpata tinham uma grande influência sobre a realeza, porém, os reis jamais tiveram muita estima pelos sacerdotes desse culto. O mesmo culto passou por momentos de aceitação e reprovação; foi restabelecido por várias vezes e em seguida proscrito formalmente, pelos soberanos do reino do Dahomé, da mesma forma que os Oluwo Ipopo, os Sakpatanon foram mortos e muitos expulsos do território do Benim.

ṢỌPỌNNÁ

Entre os iorubas Ṣọpònná é temível e perigoso, divindade das epidemias, sobretudo a varíola, sua maior arma de punição aos malfeitores e aqueles que o desrespeitam. As altas temperaturas corpórea, seguidas de delírios causados pela infecção de doenças contagiosas, não são mais do que sintomas da ira de Ṣọpònná contra sua vitima. Quando temos alguma razão para pensar que um enfermo esteja sob a manifestação maléfica de Ṣọpònná é descrito de Ilẹ̀gbóná – Varíola; Ìgbóná – Febre ou até mesmo Ilẹ̀ gbígbóná – Terra quente, ou seja, “a terra aonde o enfermo encontrasse está demasiadamente quente” é a presença do Deus da Varíola e precisa ser apaziguado. Neste caso os iorubas não pronunciam mais o nome Ilẹ̀ gbígbóná e sim empregam um eufemismo e dizem exatamente o contrário Ilẹ̀ Tútù – O solo está frio, vertendo água de dentro para fora da casa. Terrivelmente temido, seu nome não deve ser pronunciado, sobre tudo perante aos enfermos, quando invocado é mais indicado usar nomes com expressões adulatórias, como: Ọbalùàiyé – Rei e Senhor da terra; Olùàiyé – Senhor da terra ou Oloòde – Senhor dos espaços abertos. Quando um enfermo padece de qualquer doença contagiosa e se crê que a causa seja Ṣọpònná os iorubás descrevem a situação em términos de profundo respeito a divindade. Eles dizem Ó n sin ba – Ele está sob a vontade do Rei; Ilẹ̀ gbígbóná n bá a jà – A terra quente há posto sua mão sobre ele ou a terra quente o está afetando; Ó gb' ofá ou Ofá bà á – Ele atinge sua vítima como uma flecha ou Ele foi atingido por uma flecha. Ṣọpònná é descrito como Alápó – Alguém que maneja o temor e quando um enfermo morre como resultado de sua aflições, usualmente não se diz Ó kú – Ele morreu, se diz ba mú nlọ́ – O rei o o levou ou ainda Ilẹ̀ gbígbóná gbé e lọ́ – A terra quente o levou. Os mitos relatam que em dia de sol escaldante, em especial ao meio-dia, Ṣọpònná está vagando por todos os lugares e comumente se alerta a não usar o vermelho ao “sol a pino” correndo o risco de insultá-lo, do qual teriam sérias conseqüências. Deve-se ter cuidado, especialmente durante a temporada de seca, de não fazer nada que o ofenda, A sòroó pè léèrùn – Alguém cujo nome não é propicio se chamar durante a época de seca. Os antigos entendem desta forma porque as maiorias das epidemias de varíola foram constatadas em épocas de seca, além de que os iorubas crêem que Ṣọpònná esteja nessa época particularmente ativo. Ṣọpònná é considerado feroz e muitas vezes implacável, então não insultá-lo é a melhor prevenção de não ser molestado por uma divindade tão perigosa.

Ṣọpònná é a única divindade de que sua vontade, qualquer que seja sua manifestação, deve ser aceita, não somente com resignação senão com uma manifestação de prazer e gratidão. Por exemplo, os parentes de alguém que morre de varíola não deve se lamentar o mostrar que choram pela morte de um ente querido. Em vez disto eles devem estar alegres e felizes e mostrar que estão amplamente agradecidos pela atitude do Rei da Terra. Assim, Ṣọpònná é conhecido por Alápadúpé – Alguém que mata e se agradece por isso.

Sob seu absoluto domínio está a crosta terrestre; o solo onde o homem habita, constrói, cultiva e deposita seu cadáver após a morte; ele nutre os homens dando-lhes o milho e outros grãos do solo, mas também os pune fazendo com que, através de suas peles, saiam os “grãos” que eles comeram. Filho primogênito de Nà Bùkùú ou mais conhecida no Panteão Ioruba de NàNá Burúkú. Seu maior companheiro, um ancestral denominado de Ãle que habita o lado de fora de sua casa; nada o faz sem antes prestar reverencia a ele; seu nome não deve ser pronunciado após o pôr do sol. Na crença ioruba Ṣọpònná é a “Destruição que surgiu em uma noite”.

A escassez de informações sobre a origem do culto o mantém na obscuridade. Isso ocorreu devido ao fato deste culto ser de caráter reservado e em épocas remotas era proibido falar sobre o assunto. Acreditasse que se trata de uma divindade estrangeira, agregada ao Panteão dos Iorubas ou do retorno de origem ioruba longínqua, levadas por uma das inúmeras migrações em direção ao oeste da Nigéria e imigrações ao país vizinho a Republica Federal do Benim, antigo Dahomé. Ao pouco que se sabem, os antigos iorubas citam que Ṣọpònná teria vindo do território Fon e outros que tenha retornado a suas terras de origem, o território Iorubá... Na Cidade de Ketou há divergência de opiniões quanto a origem de Ṣọpònná... Alguns acreditam que tenha vindo a Ketou de Dassa Zoumé, segundo alguns, de Adja Popo, segundo outros, de Aise e uma terceira opinião de Holi... Para um melhor esclarecimento, as maiorias dos estudiosos afirmam que o Culto ao Deus da Varíola, tenha sido oriundo do Leste Ioruba.

A Medicina Tradicional de se curar a varíola denominado de Ẹ̀rọ ou Oògùn Ṣọpònná era conhecido, entre os iorubas, unicamente pelos sacerdotes de Ṣọpònná, que fizeram dele grande comércio e elevaram a varíola à posição de uma divindade temível. Na qualidade de representantes do “senhor e rei da terra”, os corpos e os bens das vítimas pertenciam de direito aos sacerdotes de Ṣọpònná. Esses sacerdotes mantinham em suas casas, cabaças com parte dos cadáveres da vítima da varíola, tais como um braço ou pé; potes contendo um líquido escuro, feito com a água extraída do cadáver ou da água que serviu para lavar o corpo, enquanto a pessoa estava viva; recipientes com um pó escuro, proveniente das escamações secas, deixadas pela varíola. Essa água ou esse pó eram jogados, durante a noite, na frente da casa das pessoas a quem se quer infectar. Os moradores ao saírem de casa, entravam em contato com os germes. Assim que uma ou mais pessoas da família se contaminasse, a erupção da pele aparece e um sacerdote de Ṣọpònná é convocado. Durante o tratamento Ẹ̀bẹ̀ – súplicas, preces eram constantemente recitadas com a finalidade de propiciar e apaziguar a fúria de Ṣọpònná.

De dez sacerdotes do culto, nove ajudam mais a desenvolver a doença do que interrompê-la. Era de seu interesse agir assim, além de grandes somas que recebem, eles reivindica todos os bens do doente, caso esse venha a falecer. Esses sacerdotes inescrupulosos retiravam os cadáveres da casa, mas não o enterravam no bosque com de costume, a não ser jogá-los no mato, onde os porcos os comiam e, algumas vezes, os pedaços do corpo eram levados para as aldeias vizinhas, contribuindo para espalhar o mal. Assim os sacerdotes faziam negócios muito lucrativos. Os sacerdotes que procediam de maneira correta conduziam o enfermo ao templo de Ṣọpònná e lá os sacerdotes os lavam com areia de praia quente e remédios secretos.

A História dos Iorubas em meados do século XVIII relata que um surto de epidemia da varíola dizimou a população de Abeokuta. Centenas de pessoas morriam todos os dias, metade da população fora atingida. Os governantes locais realizam uma sessão e certo número de adeptos de Ṣọpònná foram executados e outros expulsos, e suas casas incendiadas.

MLULU RGBO

Divindade que se funde ao culto de Ṣọpònná, mas em muitas localidades não se confunde. A região de Kétou, cidade fronteira entre a Nigéria e o Benim, é a única região em todo o território ioruba onde Ọbalùàiyé e Ọmọlu são considerados, ao que parece, como uma única divindade... Seu templo é separado de sua mãe mítica NàNá Burúkú... Com essa mesma característica ele é conhecido no Brasil, onde a influência Kétou é muito grande entre os descendentes de escravos que para lá foram levados. Em Ile Ife não existe culto à Ọmọlu e muitos ali o desconhecem. Contrário na região Mahi, onde seu culto se destinge totalmente de Ọbalùàiyé. Ao que se sabe, seu culto se originou do Oeste Iorubá.

A tradição local da Cidade de Topli, no Togo, Ọmọlulu rgbo é considerado uma divindade feminina, que saiu das águas segurando um aara emblema ritualístico e em uma das mãos e um gbada – facão na outra. Este facão é uma representação do crocodilo, animal sagrado entre as divindades dos rios... Em Abeokuta Ọmọlu é considerado um Òrìà feminino, onde o Culto à Ṣọpònná esta proibido desde 1884, divide seu templo com NàNá Burúkú e a ambas as divindade, quando se oferece sacrifícios de animais não se utilizam de facas... É possível que existam duas divindades com o mesmo nome, um de cada sexo, conforme se verá... Na cidade de Abeokuta, Ọmọlu é chamado de Olù Odò Senhor do riacho (água) e Ọmọlu Òrìà omi ni – Ọmọlu é uma divindade das águas... Esse riacho é conhecido com Odomọlu o riacho de Ọmọlu e esta localizada em direção ao poente.

De suma importância mencionar, que o Templo de NàNá Burúkú esta voltado em direção ao poente e neste são realizados as oferendas somente ao por do sol, da mesma forma que se pratica nos Terreiros Tradicionais da Bahia.
 Na Cidade de Aise, existe em seu templo uma grande lança esculpida, denominada de Ọkọ Ọmọlu, na qual são representados por três personagens superpostos, representando Òumare, o próprio Ọmọlu e Iroko... Em Dassa Zoumé Ọmọlu é duplo, masculino segurando um facão e feminino segurando um abẹ́bẹ̀ – leque e um irùkẹ̀rẹ̀ – ornamento de cauda de bovino. Seu culto foi trazido de Aja Aguna e agregado em Dassa Zoumé na época do Rei Onigbo – quarto soberano de Dassa Zoumé...

Nas proximidades de Atakpamé, cidade do Togo onde existe um dos principais templos de NàNá Burúkú, em uma aldeia igualmente chamada de Adja Agouna, existe um templo dedicado à Ọmọlu Arawe uma divindade masculina... em outra aldeia da região, conhecida por Gbekon, encontra-se um templo de sua contrapartida feminina, denominada de Ọmọlu Idji Aguna... Nesta região ambos os Ọmọlu são divindades totalmente distintas de Ṣọpònná e o sacrifícios de animais à Ọmọlu Arawe e Ọmọlu Idji Aguna são realizados sem que se utilize uma faca para imolar o animal. Seus interditos são o vinho de palmeira no que se diferencia de Ọbalùàiyé onde é ofertado este tipo de vinho...

AJAGUN AGBAGBA

Ajagun ou simplesmente Jagun é uma divindade guerreira, originário de Ekiti Ifòn, pois acreditasse que sejam filhos de um dos Òrìà Funfun. Ao que se sabe é considerado um Guerreiro Branco... Considerado invencíveis, por sua bravura e coragem, nunca perdeu uma batalha, o que lhe deu o título de Keledjegbe – O Guerreiro Invencível. Ajagun se refugiou na Cidade de Ijena, terras do temível Ṣọpònná, onde passa a ser agregado à família de Ọbalùàiyé tornando-se um dos Guardiões do Culto do Deus da Varíola.

Importante mencionar que a cidade ioruba Ijena ou Jena foi fronteira com o antigo Dahomé e outrora um dos grandes centros de contacto e aculturação entre duas das maiorias etnias da África os Ewe-Fon e os Yorubá.

Em território ioruba o descrevem segurando uma lança – kọ̀ em uma das mãos e um facão – gbada na outra. Sua cor predominante é o branco e seus interditos são o vinho de palmeira, cabe ressaltar que o vinho de palma é tabu para todas as divindades da família de Òrìà-Nlá.

CONCLUSÕES

Não poderia nos tempos de hoje chegar a uma conclusão definitiva a não ser a maiores questionamentos, sobre esses diversos aspectos de Ọbalùàiyé, Ọmọlu e Jagun Agbaba:

Duas divindades de origem diferente e pertencentes a antigos grupos culturais diferentes, divindades essas que vieram uma do leste (Ṣọpònná) e outro do Oeste (Ọmọlu), unindo e assumindo um caráter único em Ketou ?

Trata-se de uma divindade única, de origem ioruba e de origem Tapa (Nupe) mais longínqua, trazida para o oeste por uma das numerosas e antigas migrações que as tradições mencionam, e do retorno, em seguida, dessa divindade para seu ponto de partida, trazendo um novo nome, que originalmente, não passava de simples epíteto ?

Seria Ọmọlu Idji Aguna divindade feminina que saiu das águas a conhecida Yyógbáyin já que a ambos não se realizam sacrifícios com faca?

E quanto a Jagun, seria este Ọmọlu Arawe divindade masculina, baseando-se pelo fato de ambos portarem um facão em uma de suas mãos?

A grande lança na entrada do Templo de Ọmọlu Arawe na Cidade de Aise, não poderia ser a lança de Jagun?

Existem muitos mistérios em nossa sagrada religião que jamais serão revelados. Sem ser pretensioso, às vezes penso que nossa religião precisasse das “Areias do Tempo” a mítica ampulheta que permitia viajar pelo tempo. Mas isso está longe de nós pobres mortais.


Baba Guido Olo Ajagùnà

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