A transexualidade é uma daquelas questões nebulosas que pairam sobre a nossa religião. A maioria das Ìyálòrìṣà e Babalòrìṣà preferem evitar o assunto, do que entender exatamente do que ele se trata. Essa pauta é evitada e muitas vezes distorcidas, principalmente quando se trata em relação ao sacerdócio, após o indivíduo se submeter a uma Cirurgia de Reatribuição ou Redesignação Sexual, ou seja, cirurgias que possam fazer seu corpo se parecer cada vez mais com o sexo do qual um indivíduo se identifica.
O
intuito desse “post”, não é desrespeitar o transexual, pois tem
todo o meu respeito, ou mesmo discutir sobre o seu corpo
morfologicamente inverso à sua natureza psíquica ou se prefere ser
definido como homem ou mulher segundo sua composição psíquica; e
sim abordar o direito de um transexual ostentar legitimamente um
Título (oyè) tradicionalmente feminino, principalmente o de
Ìyálòrìṣà.
O
transexual se travestir-se de “baiana” dentro de um Terreiro de
Candomblé Tradicional não é tão grave, quanto o fato desse
admitir e permitir, seja qual for o motivo, que um “homem” exerça
ou ostente um “posto feminino” dentro de nossa religião. Hoje
Ìyálòrìṣà,
amanhã teremos uma Ìyálàṣẹ e quem sabe num futuro bem
próximo, teremos um transexual ostentando o título de Ìyá kekere,
Ìyá ẹfun, Ìyárọba e até mesmo uma Ìyálọ́de.
Em
meu entendimento, não acredito que um transexual seja reconhecido
aos olhos de Ìyámi Òṣòròngà e de todas as Ìyágbà como uma
autentica mulher, esposa, fêmea e muito menos mãe. Então, onde se
fundamenta esse direito? Direito outorgado por alguém?
Somente
à nível de informação, espiritualmente, dentro do contexto da
transição reencarnatória, o
indivíduo transexual é o que traz dissociada a sexualidade de
profundidade (personalidade sexual registrada na mente) do sexo de
periferia, isto é, o seu psiquismo não está harmonizado com o
gênero de que é portador. Assim, sob o ponto de vista anatômico, é
portador de uma polaridade sexual inter distante do sexo que sente
possuir e sofre intensamente, tendo conflitos psicológicos bem
marcantes. Conforme sabemos, o espírito é dotado da bipolaridade,
podendo, então, animar o corpo de um homem ou de uma mulher ao
reencarnar.
Sabemos
que durante a construção da
neovagina,
os testículos e pênis são removidos e em algumas técnicas
cirúrgicas, a glândula bulbouretral, bem como a
próstata,
são mantidas para possibilitar que a vagina perineal onde antes não
existia tenha alguma lubrificação natural.
O
avanço da medicina, possibilitou ao transexual a oportunidade única
na mudança de sexo, foram concluídas repercussões jurídicas, mas
acima de tudo, a ciência ainda não consegue alterar o DNA de um
indivíduo, portanto “ele” ainda é um “ser masculino em sua
essência”, mesmo que sua fisionomia e características se
apresentem ao contrário. Lembrando que ambas as glândulas ainda
mantidas em seu corpo fazem parte do Sistema Genital Masculino.
Baba
Guido Olo Ajagùnà.
Caro Baba Guido Olo Ajagùnà, venho parabenizá-lo pelo excelente blog. Onde são apresentados textos de grande relevância para a comunidade candomblecista, tão sedenta por explicações e elucidações. Principalmente neste momento em que vivenciamos um excesso de informações superficiais, contraditórias e antagônicas.
ResponderExcluirSempre acompanhei suas postagens no antigo (e hoje extinto) Orkut, e ainda possuo muitas delas salvas em meus arquivos. E as comparando com os textos aqui apresentados, percebo uma perfeita coerência. O que lhe confere credibilidade e confiança. Sendo assim, o congratulo pela sua boa vontade em compartilhar com todos nós suas pesquisas e sabedoria.
Sobre o presente tema, sobre a transexualidade na religião do candomblé, gostaria de contribuir com a indicação deste vídeo (https://youtu.be/yAZfZ4RpXFo), que foi apresentado pelo programa Axé in Foco Apresenta, transmitido pelo You Tube. Sob o título de, Axé in Foco Apresenta "Transexualidade e o Sacerdócio" (Censurado), o programa entrevista duas sacerdotisas transexuais, que falam sobre suas trajetória sacerdotais, seu cotidiano religioso, militância e discriminação.
Forte abraço.