domingo, 16 de agosto de 2015

A TRANSEXUALIDADE MASCULINA e o SACERDÓCIO FEMININO


A transexualidade é uma daquelas questões nebulosas que pairam sobre a nossa religião. A maioria das Ìyálòrìṣà e Babalòrìṣà preferem evitar o assunto, do que entender exatamente do que ele se trata. Essa pauta é evitada e muitas vezes distorcidas, principalmente quando se trata em relação ao sacerdócio, após o indivíduo se submeter a uma Cirurgia de Reatribuição ou Redesignação Sexual, ou seja, cirurgias que possam fazer seu corpo se parecer cada vez mais com o sexo do qual um indivíduo se identifica.

O intuito desse “post”, não é desrespeitar o transexual, pois tem todo o meu respeito, ou mesmo discutir sobre o seu corpo morfologicamente inverso à sua natureza psíquica ou se prefere ser definido como homem ou mulher segundo sua composição psíquica; e sim abordar o direito de um transexual ostentar legitimamente um Título (oyè) tradicionalmente feminino, principalmente o de Ìyálòrìṣà.

O transexual se travestir-se de “baiana” dentro de um Terreiro de Candomblé Tradicional não é tão grave, quanto o fato desse admitir e permitir, seja qual for o motivo, que um “homem” exerça ou ostente um “posto feminino” dentro de nossa religião. Hoje Ìyálòrìṣà, amanhã teremos uma Ìyálàṣẹ e quem sabe num futuro bem próximo, teremos um transexual ostentando o título de Ìyá kekere, Ìyá ẹfun, Ìyárọba e até mesmo uma Ìyálọ́de.

Em meu entendimento, não acredito que um transexual seja reconhecido aos olhos de Ìyámi Òṣòròngà e de todas as Ìyágbà como uma autentica mulher, esposa, fêmea e muito menos mãe. Então, onde se fundamenta esse direito? Direito outorgado por alguém?

Somente à nível de informação, espiritualmente, dentro do contexto da transição reencarnatória, o indivíduo transexual é o que traz dissociada a sexualidade de profundidade (personalidade sexual registrada na mente) do sexo de periferia, isto é, o seu psiquismo não está harmonizado com o gênero de que é portador. Assim, sob o ponto de vista anatômico, é portador de uma polaridade sexual inter distante do sexo que sente possuir e sofre intensamente, tendo conflitos psicológicos bem marcantes. Conforme sabemos, o espírito é dotado da bipolaridade, podendo, então, animar o corpo de um homem ou de uma mulher ao reencarnar.

Sabemos que durante a construção da neovagina, os testículos e pênis são removidos e em algumas técnicas cirúrgicas, a glândula bulbouretral, bem como a próstata, são mantidas para possibilitar que a vagina perineal onde antes não existia tenha alguma lubrificação natural.

O avanço da medicina, possibilitou ao transexual a oportunidade única na mudança de sexo, foram concluídas repercussões jurídicas, mas acima de tudo, a ciência ainda não consegue alterar o DNA de um indivíduo, portanto “ele” ainda é um “ser masculino em sua essência”, mesmo que sua fisionomia e características se apresentem ao contrário. Lembrando que ambas as glândulas ainda mantidas em seu corpo fazem parte do Sistema Genital Masculino.

Baba Guido Olo Ajagùnà.






Um comentário:

  1. Caro Baba Guido Olo Ajagùnà, venho parabenizá-lo pelo excelente blog. Onde são apresentados textos de grande relevância para a comunidade candomblecista, tão sedenta por explicações e elucidações. Principalmente neste momento em que vivenciamos um excesso de informações superficiais, contraditórias e antagônicas.

    Sempre acompanhei suas postagens no antigo (e hoje extinto) Orkut, e ainda possuo muitas delas salvas em meus arquivos. E as comparando com os textos aqui apresentados, percebo uma perfeita coerência. O que lhe confere credibilidade e confiança. Sendo assim, o congratulo pela sua boa vontade em compartilhar com todos nós suas pesquisas e sabedoria.

    Sobre o presente tema, sobre a transexualidade na religião do candomblé, gostaria de contribuir com a indicação deste vídeo (https://youtu.be/yAZfZ4RpXFo), que foi apresentado pelo programa Axé in Foco Apresenta, transmitido pelo You Tube. Sob o título de, Axé in Foco Apresenta "Transexualidade e o Sacerdócio" (Censurado), o programa entrevista duas sacerdotisas transexuais, que falam sobre suas trajetória sacerdotais, seu cotidiano religioso, militância e discriminação.

    Forte abraço.

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