quarta-feira, 15 de junho de 2016

ÒS̩ÙPÁ – A Lua



ÒS̩ÙPÁ – A Lua

O termo Òs̩ùpá esta averbado nos dicionários Yorubá – Português para a palavra “Lua”. Entretanto, dentro de um contexto religioso, não se refere apenas ao nome de um corpo celeste e sim de uma Divindade, cuja essência é puramente feminina, da qual nasce no Odù Ogbè-Òsá.

Essa enigmática Divindade, também conhecida por seu epíteto Ìkán Ọrún – Um Pingo no Firmamento [Odù Ọkànràn-Òfún] revela seus poderes sobrenaturais em vários Odù Méjì e seus Ọmọ Odù.

Os princípios metafísicos expressos nos Signos de Ifá, postulados da física hiperdimensional afirmam que os portais são abertos e fechados no Àiyé – Terra, como resultado da interação de outros planetas, do sol e da lua. Vejamos algumas citações da Lua dentro do corpo dos seguintes Odù:

Odù Ogbè-Ọyẹkú
“Apenas uma Lua é muito mais luminosa do que todas as Estrelas”  “A Lua Cheia atingiu seu mais luminoso, anunciando um novo dia”

Odù Ogbè-Ò
“Seus pedidos devem ser dirigidos à Órùn – Sol e Òs̩ùpá – Lua” “Revela o Adura – Oração, que deveremos fazer a primeira Lua do Ano Novo”

Odù Ogbè-Òfún
“Com ou sem a Lua, o Ọba (Rei), sempre será respeitado quando o encontramos” “A Lua sobre Ọyọ, ajuda o Alafin (Senhor do Palácio), a saber, o que esta acontecendo nas províncias” “Revela de como Òs̩olofín outorgou que a Òs̩ùpá reina-se somente durante a noite”

Odù Ìwòri Méjì
“As conseqüências pelo fato de Òs̩ùpá não ter realizado o sacrifício determinado por Ifá”

Odù Ìwòri-Irosun
“A guerra entre o Povo que cultuava Órùn e o Povo que cultuava Òs̩ùpá

Odù Iwori-Irete
“A Terra onde de dia fazia muito calor e a noite muito fria, onde no principio muitos homens morreram”

Odù Òdi-Ògúndá
“Ifá de Òs̩ùpá proíbe seus filhos em ficar ao relento do luar”

Odù Ọkànràn-Ògúndá
“Determina que em certas ocasiões se ofereça Saraẹkọ à Òs̩ùpá

Odù Ògúnda-Ọkànràn
“A ligaçã entre Oronã-Àpádá e Òs̩ùpá” “Um sacrifício à Òs̩ùpá”

Odù Ògúndá-Òs̩é
“A ligação entre Òs̩ùpá e o período menstrual da mulher”

Odù Òsá Méjì
“Rege as relações existentes entre Àiyé e Òs̩ùpá” “Os pássaros que desejavam destruir o algodoeiro de Ọbatala pedem ajuda à Òs̩ùpá”

 Odù Òsá-Òdi
“Porque os pescadores se orientam pelas fases da lua, para que suas pescarias tenham êxitos”

Odù Òtúrá Méjì
“O Sol não pode capturar a Lua”

Odù Òs̩é-Ogbè
“A influência de Òs̩ùpá em seu Quarto Minguante sobre as mulheres”

Odù Òs̩é-Ọyẹkú
“Se conhece a Terra pelo barro e o Céu pela Lua”

Odù Òfún Méjì
“Revela que seu astro regente é a Lua” “A Terra da Escuridão” onde somente existia a Luz do Luar.

Odù Òfún-Ogbè
“Nasce à cerimônia do sacrifício à Òs̩ùpá.

 Odù Òfún-Òsá
“Os fenômenos e correntes astrais de Òs̩ùpá e seu ciclo lunar” “A rivalidade entre a luz do solar e a luz do luar”

A etimologia da palavra Òs̩ùpá ainda se torna um mistério para a compreensão humana, do qual repousa na obscuridade.

A maioria das sociedades tem honrado a presença da Lua como um Ser Místico, sobre tudo a Sociedade Gẹlẹdẹ, onde em noite de lua crescente durante as reuniões denominadas de Ọrọ Ẹfẹ, surgem dançarinos carregando mascaras, onde podemos notar claramente o símbolo da lua crescente, enquanto outros surgem com mascaras, onde a “meia lua” esta em uma posição invertida.







A simbologia da lua crescente, durante o Ọrọ Ẹfẹ esta associada ao fato de permitir que todos possam ver claramente e desfrutar dessa sagrada cerimônia. “A Luz da Lua Crescente aclara como os olhos de Òs̩olófìn, dão claridade a todos nós” [Odù Ogbè-Òsá].

Outro poder simbolizado pela lua crescente é também uma referencia ao “tempo do tempo” da cerimônia e a tradição de uma vigília; se trata do momento mais apropriado para apelar às mulheres idosas e outras Divindades Anciãs, que são mais atentas durante as horas de escuridão. “A afinidade sagrada entre a Lua e as Mulheres é encontrada dentro de nosso útero, aquele lugar escondido que se abre para revelar nosso fluxo sagrado, seguindo em uníssono, o movimento da lua ou o surgir de um novo ser” [Ìyá Ademuyiwa].

Durante o Ọrọ Ẹfẹ são recitados várias canções populares que fazem alusão à Òs̩ùpá. Essas canções são denominadas de Ẹka, que nem sempre são longas. Muitas vezes eles são breves, um tipo de condensado do texto mais longo, que pode ser repetido várias vezes, ou podem ser considerados imagens verbais sucintas que evocam um contexto mais amplo. Como um provérbio ioruba explica, “é necessário dar apenas metade do discurso, para a pessoa bem educada, dentro dele”, isto é, “um fragmento é suficiente para recordar um texto ou um contexto inteiro”. A Ẹka abaixo é um fragmento que alude a uma canção popular:

...la la la la e jó e e Òs̩ùpá jó e...
...o le l’Òs̩ùpá ko le já...

Com grande brevidade evoca uma canção sobre um eclipse, comparando-o a uma luta entre Órùn – O Sol e Òs̩ùpá – A Lua; e que mesmo assim a Lua continua a seguir o seu caminho dançando.

A relação entre Òs̩ùpá e os Òrìs̩à, principalmente com as Divindades Fluviais é representada por uma Lua Crescente em miniatura, presa a uma corrente de elo, com vários outros emblemas também em miniatura. A essa peça que complementa os “assentamentos” de nossas divindades é popularmente denominada entre o povo de santo de “penca”.

Em algumas linhagens, ou seja, na minoria delas, antes de qualquer rito ou cerimônia, de pequeno ou grande porte, a Lua é consultada para saber em que fase lunar a mesma se encontra; enquanto que para algumas linhagens isso não passa de meras superstições e crendices europeias.

Baba Guido Olo Ajaguna





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