quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Algumas informações acerca da Cerimonia do Olùgbàjẹ

A Cerimônia do Olùgbàj é exclusividade do afro-brasileiro, sua origem remota desde a época do Terreiro da Barroquinha, depois que a primeira ìyáwò de balùàiyé foi iniciada e consagrada ao Deus da Varíola. Este caminho de balùàiyé vestia-se todo de preto, inclusive o seu Àṣọ Ìkọ – roupa confeccionada em fibra vegetal ou palha da costa, denominada de Azem entre os povos da nação Jeje. Após o término do Olùgbàjsuas roupas não podia ser guardadas e deveriam ser queimadas ritualisticamente. Esta cerimônia, que durava naquela época 14 dias, foi introduzida na ritualística com a finalidade de prolongar a vida, afastando as doenças e trazendo saúde a todos os membros da Comunidade Terreiro.
A etimologia dessa palavra nos levam a seguinte interpretação, após ser desmembrada: o substantivo Olù – abreviação de Olùwa, que tem o significado de senhor, mestre, dono; em junção com o verbo intransitivo gbàj – aceitar uma comida. Um estudo nos leva à palavra Olùbáj– O termo Olù em junção com verbo transitivo báj, que significa, comer com alguém, associar-se ou manter comunicação com algum indivíduo. Outro nos leva a palavra Olùbàj– O Senhor da Putrefação, mas esse com certeza é um título de balùàiyé em relação a decomposição de um cadáver e sua relação com Eṣinṣin a mosca varejeira. Alem de que a maior parte das doenças sob seu domínio, degeneram os tecidos dos seres humanos ainda em vida. No tradicional cântico dessa cerimônia: a palavra A! – interjeição, expressando alegria surpresa, admiração e contentamento; A – pronome, contração de Awa, nós (1ª pessoa do plural); Jẹun – verbo intransitivo comer, se alimentar; Bọ – verbo intransitivo, retornar, chegar e vir; e Aràiyé – substantivo que significa povo ou humanidade.
Como sempre digo: “cantiga de candomblé, não se considera apenas a tradução e sim a interpretação”, então vou deixar para que cada leitor, faça a sua interpretação de acordo com o seu entendimento, pois não sou o “dono da verdade absoluta”. Seja qual for a palavra, Olùgbàj ou Olùbáj, ambas designam um ritual onde são servidos alimentos aos participantes em uma verdadeira comunhão com o Òrìṣà balùàiyé, ou seja em minhas palavras, um legitimo e autentico Abánijẹun – Aquele que reparte o mesmo prato com outro.
Muito tem se discutido a quantidade e as iguarias que devam ser oferecidas durante a cerimônia, suas variedades e tipos, diferem de uma linhagem a outra. O mais tradicional de todos, chegam num total de vinte e uma comidas, sendo sete de caráter publico e quatorze de caráter privado, das quais permanecem acomodadas dentro do Ile Iji – A Casa de balùàiyé .

Sabemos que as de caráter publico são:
  1. Feijão fradinho cozido e refogado.
  2. Feijão preto cozido e refogado.
  3. Milho de galinha cozido em água com sal.
  4. Acaça branco.
  5. Milho de canjica branco cozido.
  6. Acarajé.
  7. Carne dos animais oferecidos, cozidos e refogados.

Todas essas comidas serão acomodadas no chão, ao lado de fora do salão principal e servidas a todos os presentes, em Ewé Lara – folha de mamona, e o que nela sobrar, será depositada em um grande balaio de palha, que se transformará em um grande “carrego”.
Tradicionalmente, um Terreiro de Candomblé só tem o direito de realizar a referida cerimonia, se nele existir um ou mais filhos de balùàiyé, ou seja, não se “pega emprestado” de casa alheia, ou que o dirigente do terreiro pertença a esse Òrìṣà.

Um fraternal abraço a todos.

Baba Guido Olo Ajagùnà.



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