quarta-feira, 23 de setembro de 2015

PÈPÉLE – O ALTAR DOS DEUSES IORUBÁS.

O vocábulo pèpéle esta averbado no Dicionário Yorubá–Português, com o significado de “banco de terra feito para dormir, banco de barro, barranco”. Entretanto, dentro do contexto religioso esse substantivo, tem a interpretação e conotação de “Altar”.

Sabemos que no interior dos templos localizados na Mãe Africa, os objetos sagrados que representam as Divindades do Panteão Iorubá, não estão depositados diretamente no solo e sim sobre um piso sobre saliente feito de barro com determinados aglomerados que sacramentam o local. Nesse pèpéle são realizados os ritos de sacrifícios e oferendas.

Em Cuba, especialmente em Matanza, onde antigos escravos propagaram e perpetuaram a Religião dos Iorubás, os seguidores da Regla de Ocha, tem o hábito de colocarem os recipientes que representam suas divindades em belíssimas cristaleiras ou antigos oratórios, sob a influência do sincretismo religioso afro-cubano. Salvo algumas divindades que se recusam a “morar” nessas mobílias antiquárias, e ordenam que sejam depositados sobre pedras, vasos de barros ou porcelanas, troncos de árvores, almofariz de madeira, pilastras ou diretamente no solo. A Tradição Lucumi exige que esses pèpéle, denominados de “Trono” sejam sacramentados através dos ritos propiciatório do sacrifícios.

Nos Terreiros Tradicionais da Bahia e seus descendentes, os pèpéle são construídos na maior parte em alvenaria convencional, que segue um certo padrão que identifique o Ojúb, denominado de “Santo da Casa” ou “Assento Central”. Cada quarto de santo que tenha o seu pèpéle, tem a sua denominação especifica, do qual me reservo no direito de não revelar seus nomes. Em meu conhecimento o único pèpéle que ainda se mantem no barro, seria o Ojúbọ Ọbaluàiyé.

A “super lotação” e o “limitado espaço metropolitano” fazem com que alguns dirigentes sejam obrigados a montar prateleiras, para acomodar a imensa quantidade de “assentamentos” individuais dos membros da casa de santo. Nesse caso a acomodação das vasilhas nas prateleiras, são acomodadas de acordo com a idade de santo, ou seja, de baixo para cima. Quando da necessidade dos ritos de sacrifícios a serem realizados sobre os Ìgbá Òrìṣà esses objetos sagrados são retirados do compartimento e sustentados em outros apoios, muitas vezes diretamente no chão forrado com esteiras, aglomerado de folhas ou simplesmente em um pedaço de tecido.

Em meu entendimento, o pèpéle tem como definição e conceito de “altar e sacrifício” e dos quais são termos mais ou menos correlatos. A menção de um imediatamente sugere o outro. Consequentemente, a palavra “Altar” assumiu um significado comum de um lugar onde o sacrifício é oferecido. O Caudas Aulete, Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, define a referida palavra, como sendo “mesa destinada aos sacrifícios em qualquer religião”. A Grande Enciclopédia Delta Larousse define a mesma palavra como “mesa de pedra destinada aos holocaustos do Templo de Jerusalém”.

Somente em nível de informação, a palavra hebraica mizbéahh (altar) deriva do verbo radical zaváhh (abater; sacrificar) , abatedouro ou a um lugar de sacrifícios. (Gên 8:20; 12:21; 16:2) . A palavra grega thysiastérion (altar) deriva do verbo thýo, que também significa “abater; sacrificar”. Tanto no hebraico como no grego, o significado de altar é sacrificar. No Latim a origem é altus, e poderemos compará-lo ao acima descrito sobre o pèpéle, ou seja, geralmente estão numa posição em evidencia, um pouco acima do nível do chão. Não trata-se apenas um lugar alto, mas um lugar de adoração e sacrifício; um lugar de vida e morte, pois a vida do animal a ser sacrificado justifica a vida daquele que o ofereceu.

Em resumo, o pèpéle é um altar, que deverá ser o ponto de ligação com nossas Divindades. O altar é o Microcosmo (uma sintética imagem do Universo), a posição espiritual onde nossas forças denominadas de Àṣẹ, serão renovadas para com os nossos Òrìṣà. Sob o ponto de vista religioso, o pèpéle representa lugar de oferendas e sacrifícios. Diante desse “altar + divindade” devemos tomar nossas decisões e fazer nossas escolhas. O altar é uma posição espiritual, onde depois de ouvirmos a “voz do oráculo”, iremos oferecer e sacrificar para restabelecer nosso equilíbrio individual ou coletivo, ou seja, manter o equilíbrio de nosso Ẹ̀gbẹ́ com o Ọ̀run. Pèpéle são marcos importantes e através deles zelamos por nossas vidas, seja espiritual, emocional ou naturalmente.

Um forte abraço a todos


Baba Guido Olo Ajagùnà

0 comentários:

Postar um comentário