O
vocábulo pèpéle esta averbado no Dicionário
Yorubá–Português, com o significado de “banco de terra
feito para dormir, banco de barro, barranco”. Entretanto, dentro
do contexto religioso esse substantivo, tem a interpretação e
conotação de “Altar”.
Sabemos
que no interior dos templos localizados na Mãe Africa, os objetos
sagrados que representam as Divindades do Panteão Iorubá, não
estão depositados diretamente no solo e sim sobre um piso sobre
saliente feito de barro com determinados aglomerados que sacramentam
o local. Nesse pèpéle são realizados os ritos de
sacrifícios e oferendas.
Em
Cuba, especialmente em Matanza, onde antigos escravos propagaram e
perpetuaram a Religião dos Iorubás, os seguidores da Regla de Ocha,
tem o hábito de colocarem os recipientes que representam suas
divindades em belíssimas cristaleiras ou antigos oratórios, sob a
influência do sincretismo religioso afro-cubano. Salvo algumas
divindades que se recusam a “morar” nessas mobílias antiquárias,
e ordenam que sejam depositados sobre pedras, vasos de barros ou
porcelanas, troncos de árvores, almofariz de madeira, pilastras ou
diretamente no solo. A Tradição Lucumi exige que esses pèpéle,
denominados de “Trono” sejam sacramentados através dos
ritos propiciatório do sacrifícios.
Nos
Terreiros Tradicionais da Bahia e seus descendentes, os pèpéle
são construídos na maior parte em alvenaria convencional, que
segue um certo padrão que identifique o Ojúbọ,
denominado de “Santo da Casa” ou “Assento Central”. Cada
quarto de santo que tenha o seu pèpéle, tem a sua
denominação especifica, do qual me reservo no direito de não
revelar seus nomes. Em meu conhecimento o único pèpéle que
ainda se mantem no barro, seria o Ojúbọ Ọbaluàiyé.
A
“super lotação” e o “limitado espaço metropolitano” fazem
com que alguns dirigentes sejam obrigados a montar prateleiras, para
acomodar a imensa quantidade de “assentamentos” individuais dos
membros da casa de santo. Nesse caso a acomodação das vasilhas nas
prateleiras, são acomodadas de acordo com a idade de santo, ou seja,
de baixo para cima. Quando da necessidade dos ritos de sacrifícios
a serem realizados sobre os Ìgbá Òrìṣà esses
objetos sagrados são retirados do compartimento e sustentados em
outros apoios, muitas vezes diretamente no chão forrado com
esteiras, aglomerado de folhas ou simplesmente em um pedaço de
tecido.
Em
meu entendimento, o pèpéle tem como definição e conceito
de “altar e sacrifício” e dos quais são termos mais ou menos
correlatos. A menção de um imediatamente sugere o outro.
Consequentemente, a palavra “Altar” assumiu um significado comum
de um lugar onde o sacrifício é oferecido. O Caudas Aulete,
Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, define a referida
palavra, como sendo “mesa destinada aos sacrifícios em qualquer
religião”. A Grande Enciclopédia Delta Larousse define a mesma
palavra como “mesa de pedra destinada aos holocaustos do Templo de
Jerusalém”.
Somente
em nível de informação, a palavra hebraica mizbéahh
(altar) deriva do verbo radical zaváhh (abater; sacrificar) ,
abatedouro ou a um lugar de sacrifícios. (Gên 8:20; 12:21; 16:2) .
A palavra grega thysiastérion (altar) deriva do verbo thýo,
que também significa “abater; sacrificar”. Tanto no hebraico
como no grego, o significado de altar é sacrificar. No
Latim a origem é altus,
e poderemos compará-lo ao acima descrito sobre o pèpéle,
ou seja, geralmente estão numa posição em evidencia, um pouco
acima do nível do chão. Não trata-se apenas um lugar alto, mas um
lugar de adoração e sacrifício; um lugar de vida e morte, pois a
vida do animal a ser sacrificado justifica a vida daquele que o
ofereceu.
Em
resumo, o pèpéle é
um altar, que deverá ser o ponto de ligação com nossas Divindades.
O altar é o Microcosmo (uma sintética imagem do Universo), a
posição espiritual onde nossas forças denominadas de Àṣẹ,
serão renovadas para com os nossos Òrìṣà.
Sob o ponto de vista religioso, o pèpéle
representa lugar de oferendas e sacrifícios. Diante desse “altar +
divindade” devemos tomar nossas decisões e fazer nossas escolhas.
O altar é uma posição espiritual, onde depois de ouvirmos a “voz
do oráculo”, iremos oferecer e sacrificar para restabelecer nosso
equilíbrio individual ou coletivo, ou seja, manter o equilíbrio de
nosso Ẹ̀gbẹ́
com o Ọ̀run.
Pèpéle são marcos
importantes e através deles zelamos por nossas vidas, seja
espiritual, emocional ou naturalmente.
Um
forte abraço a todos
Baba
Guido Olo Ajagùnà
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