ADÚRÀ – O Sentido da Oração
No mundo todo, em qualquer cultura ou religião, as pessoas oram...
Elas oram sozinhas ou em grupos; oram em igrejas, em
templos, sinagogas, mesquitas e santuários. Talvez usem tapetes de oração,
rosários, rodas de oração, livros, imagens e tabuinhas penduradas em prateleiras.
Dentro de nossa religião a palavra
oração, reza, prece ou suplica é conhecida entre o "povo-de-santo" por adúrà
ou gbàdúrà Òrìsà que significa “rezar ou oferecer uma
prece as divindades”. A oração geralmente é vista como um meio do iniciado
entrar em contato com o domínio espiritual, algo que deva ser entendido como
sagrado e eterno. O ato de rezar faz parte da “necessidade espiritual” de
qualquer religioso e a maior parte de nossos rituais litúrgicos são seguidos
de adúrà ou mesmo
antecedem determinados ritos. A oração e o rito se fundem mas não se confundem
e um complementa o outro.
São inúmeras as orações destinada as
Divindades do Panteão Iorubá e uma única divindade chega ter mais de um adúrà.
Por mais variadas que sejam, essas orações tem algo em comum, estabelecer uma
comunicação com um plano em outra dimensão denominado de òrun –
o mundo sobrenatural. Os antigos que ainda tem o hábito de orar a seus Òrìsà,
sabem qual é o fator principal para que suas suplicas sejam ouvidas e a quem
dirigir suas orações, algo muitas vezes desconsiderado no mundo de hoje,
principalmente pelos novatos. Na atualidade vemos diversos iniciados e
consagrados, revelarem com um certo constrangimento ao dizer que não sabem
rezar para sua própria Divindade Tutelar ou mesmo nunca terem participado ou sequer ouvido falar da Cerimônia
do Nle – um conjunto enorme de orações são entoadas antes
do amanhecer. Embora a referida cerimônia somente seja realizada quando das
Festividades Anuais, existem outras adúrà que complementam
diversos ritos.
Muitos tradicionalistas enfatizam os
aspectos físicos da oração, como postura dojúbolè ou dùbúlè
– deitado ou curvado e rituais ìpatéwo ou pawo
– bater palmas e o aspecto mental, ou seja, principalmente orar de coração - tokàntokàn, expressando nesse momento seu profundo sentimento. Para orarmos em harmonia com
a vontade das divindades, precisamos saber qual a vontade delas. Assim entender
o verdadeiro significado da reza, é um fator importante no que diz respeito a
oração.
Alguns Babalòrìsà e Ìyálòrìsà – Sacerdotes e Sacerdotisas, orientam seus seguidores
que os adúrà somente devem
ser proferidos, dentro dos Limites do Terreiro; contrário a outros que ensinam
a seus discípulos, orações restritas ao “quarto-de- santo” e as que possam ser dirigidas as divindades
no cotidiano do dia-a-dia, principalmente ao amanhecer. A falta de conhecimento
dessas orações especificas para ocasiões especiais, muitos consideram a oração
cristã mais repetida no mundo. Quer isso seja verdade, quer não, a oração
modelo de Jesus, às vezes chamada de Pai-Nosso, com certeza é uma das orações
que muitos iniciados nos mistérios dos Òrìsà, repetem suas
palavras mecanicamente todo dia, talvez várias vezes no dia.
No atual mundo descrente, muitos duvidam
que os adúrà tenham algum valor prático; alegam que repetir
palavras sem o devido conhecimento e
entendimento do que estão proferindo, não tem nenhuma validade. Desconhecer o
conteúdo oculto de uma oração não justifica o desdem para com ela. Orar nos
beneficia de alguma forma e nessa hora o exercício dos mais-velhos é de suma
importância. Somente alguém mais sábio e que viveu a mais tempo na religião
auxilia os mais-novos e os movem a rezar. Na verdade, a prece pode nos ajudar
muito no sentido espiritual, seja individual ou em prol da comunidade-terreiro.
Baba Guido Oni Ajaguna
Lindo texto, muito esclarecedor.
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