AMULETOS & TALISMÃS IORUBÁS
A proteção talismânica
Talismãs denominado no Idioma Iorubá de óndè,
e em outras linhagens ìsóra, são objetos mágicos que podem
ser usados com a finalidade de proteção na vida diária de um individuo. Pode
ser usado com a intenção de opulência e poder, atrair a boa sorte, na vida
financeira, assuntos amorosos, familiares e o mais importante de todos, para
ter boa saúde. Alguns são de uso permanente, individual e intransferível,
enquanto outros são de uso temporários. Suas funções se sobrepunham em uma extensão considerável, mas
a principal função do talismã é atrair influências psíquicas favoráveis,
diferente do amuleto que dá um escudo defensivo contra adversidades de todos os
tipos, incluindo o ataque de “espíritos malignos” denominados de Ajogun
– Os Inimigos dos Homens. Cada um deles representa, portanto, um aspecto
distinto da força mítica – o talismã, atrai o positivo, enquanto o amuleto,
afasta o negativo.
O Patuá, nome popular dado ao talismã, deve ser confeccionado “sob encomenda”, ou seja, ter em seu interior um aglomerado de substâncias, afim de agir sobre aquilo que lhe esta
destinado a cumprir. Ele deve ser preparado em fase lunar correta, em lugar
limpo, isto é, que seja psiquicamente estéril, ou, em outras palavras, absolutamente
livre de todas as emanações malignas. Por esse meio o talismã é imbuído de
qualidades magnéticas poderosas que atrairão a boa sorte em uma escala sempre
em ampliação.
O talismã é um objecto consagrado que traz em si o àse,
a força mágica das divindades a quem ele é consagrado. Confeccionados em couro
dos mais diversos animais ou em tecidos resistentes ao tempo, em seu interior
guarda-se os mais diversos ingredientes, tais como: raízes, folhas, sementes,
flores, cascas, favas, ossos, pêlos de diversos animais, penas, sangue seco, terra, areia e
minérios. Cada qual com seus ingredientes necessários, cada qual com suas cores
e adornos correspondente ao propósito do óndè. Esses objetos
mágicos e repleto de miticismo, tem sido empregados desde os tempos mais
remotos, nas mais diversas crenças e culturas, em relação a qualquer situação
ou atividade que se possa conceber.
Mas aonde estão os patuás afro-brasileiros?
Sem medo de equivocar-me, afirmo que estão em poder de poucos
iniciados nesse mistério. Alguns religiosos
afirmam que estes são dispensáveis, já que acreditam que apenas os ebo e o adimu oferendas, seja suficiente para solucionar os mais diversos problemas do consulente.
Entretanto muitos trabalhos exigem a confecção do óndè, pois
acredita-se que a oferenda solucione o problema em questão, mas que o patuá irá
manter por um longo tempo esta energia positiva. Esse Saber Tradicional a cada
dia vem se perdendo, esta sendo descolorado pela distância que existe no
fechamento da informação. Quando menciono “Os mais velhos morrem e não
divulgam tudo o que sabem, fizeram de travesseiro o seu saber”, isso é algo que
deve ser analisado de dois pontos de vista. O primeiro é o awo –
o segredo, arma de guarda e defesa, e o segundo, um rigor seletivo na busca de
discípulos dignos dos preceitos e fundamentos ritualísticos. Em nossa religião
o saber sempre se realiza no real; "quem sabe, não sabe para si nem por si, sabe
a partir da necessidade e para os fins". O conhecimento, o entendimento e a
sabedoria, são três em um, este conjunto é ao mesmo tempo o segredo, a
necessidade e a capacidade de materializar o conhecimento, transmutando mitos
em ritos. Quanto mais conhecimento se adquire nesta jornada
religiosa, tanto mais será a necessidade de ritos e práticas.
Outro fator a ser observado é a hostilidade da igreja, quando os
primeiros eclesiásticos algumas vezes consideravam difícil distinguir entre
invocações mágicas que eram proibidas e preces legítimas usadas em conjunção
com talismãs e amuletos, e a Inquisição considerou criar um sistema de regras
para remediar a situação. Um talismã ou amuleto era proibido se ele
incorporasse qualquer intenção ou sugestão de pacto com Deuses e/ou Divindades
de nomes desconhecidos, declarações não verdadeiras aos olhos do cristianismo,
qualquer outro símbolo que não o Sinal da Cruz, quaisquer frases que não fossem
da Bíblia. Finalmente, sua preparação tinha que ser desacompanhada de ritos
supersticiosos e tinha que depender inteiramente da generosidade de Deus para
sua efetividade. Logo o clero percebeu que não poderia impedir o uso dos patuás
pelos negros, que os tiravam antes de entrar nas igrejas, mas voltavam a
usá-los ao afastar-se dela. Decidiram, então, substituir os patuás africanos,
que traziam seus “ingredientes mágicos”, por outro que trazia orações
católicas, medalhas sagradas, agnus dei, etc.
Podemos encontrar os mais variados patuás a venda em lojas de
artigos religiosos espalhadas por todo o território nacional, na famosa Feira
de São Joaquim ou ainda no Mercado Modelo de Salvador – BA ou mesmo no Mercado
da Madureira – RJ. Mas com todo respeito os consideram apenas como um produto
comercial, pois fogem do verdadeiro conceito mágico-religioso.
Isso me leva a
lembrar de Eduardo Fonseca Júnior, que em sua obra, cito o DICIONÁRIO YORUBÁ
(NAGÔ) – PORTUGUÊS, averba a seguinte palavra: óndè – subs. Enfeite costurado
no couro e usado pelas pessoas como adorno. Se Fonseca está se
referindo aos patuás produzidos em escala industrial, está mais do que correto;
mas se tratando do óndè de origem Iorubá, está completamente equivocado.
O valor que se paga nesses falsos patuás é ínfimo em comparação aos verdadeiro,
é tão irrisório que vale a pena comprar um e abri-lo para se constatar o que há
dentro deles “um recorte de jornal”.
Os tipos de talismã
Os óndè ìdáàbòbò
conhecido no dito popular de “patuás de proteção”, podem carregar uma ou
múltiplas funções de acordo com a necessidade de cada individuo. Entre eles
temos:
lówó èpè, contra maldições;
lówó
ibi, contra o mal;
lówó ìjà, contra brigas,
lówó ìjàmbá, sobreviver sem ferimentos a um
acidente de carro; lówó òjijì, contra a morte
súbita;
lówó iro pipa momi, contra
falsas acusações;
lówó ojúkòkòrò, contra ganância;
lówó
olè, contra ladrões;
lówó ogbé, contra
ferimentos de faca;
lówó òtá, contra
inimigos;
lówó àbìlù, contra trabalhos maléficos;
lówó
ejó, contra processos judiciais e
lówó
àgbéró àìlù, contra agressões de todos os tipos.
Os óndè citados, são de uso
individual e intransferível, pois durante seu preparo será adicionado um
pertence do solicitante, deverá ser usado constantemente e conservado pela
pessoa se assim desejar que este seja efetivo.
óndè oríire, tem a finalidade de atrair a boa
sorte, podem ser de uso pessoal, ou ainda, pendurados atrás da porta de
entrada de residências e comércios. Seus ingredientes variam de acordo com a
energia que “trás a sorte” para dentro da casa ou do comércio. Sem duvida neste
ultimo, na maioria da vezes tem como complemento o àse de Èsù.
óndè àwúre
owó níní, por sua vez, são destinado para ganhar dinheiro; jekajèrù
– de forma rápida e ìtajà
– para ter sucesso rápido nas vendas. Estes são usados em contato com o
corpo, apenas durante a jornada de trabalho; além de ajudar nas vendas tem a
função de proteger contra o “mau olhado” de outros colegas de trabalho,
que podem inconscientemente invejar seu progresso. Seu conteúdo depende da
divindade que proporciona “caminho
financeiro” ao consulente.
óndè òràn –
para processos judiciais, que deverá ser utilizado pelo solicitante doze
dias antes do julgamento do processo e despachado somente após ser dado o
veredito. Este tipo de patuá é um complemento dos trabalhos realizados nos
caminhos de Sàngó e a esta divindade somente se pede
aquilo que lhe é de direito, não serve para indivíduos que vivem a margem da
sociedade; estes tem que “contar com a sorte” dos afòràn –
trabalhos para escapar de processos na justiça.
óndè àwúre ìféràn –
para obter exito na vida amorosa, conseguir um relacionamento firme e duradouro.
Existem várias pessoas que tem dificuldade de encontrar a sua “outra metade” e
muitos consulentes procuram nossa religião com o intuito de sanar este tipo de
problema que em muitos casos, causam transtornos. De imediato não se sabe a que
momento este deverá ser despachado; pode ser antes ou depois do casamento.
Dentro deste deverá conter o àse da divindade que dá
“caminho sentimental” do consulente e nunca deverá conter o nome de um casal,
aqui não se trata de “trabalhos de amarração”
óndè ìbímo –
são amplamente utilizados nos trabalhos para facilitar a
concepção – ìmú obìrin l'óyún, de mulheres com problemas para
engravidar; em muitos casos são usados para assegurar a gravidez ou evitar o
aborto espontâneo – ìmú óyún dúró, do qual este deverá ser amarrado
na cintura da gestante e para que o parto seja fácil – àwèbí. Este
tipo de patuá é utilizado como um complemento dos complexos trabalhos ligados à
Ìyámi Òsòròngà – Òsun – Yemojá – Òrìsà-nlá
as divindades da fertilidade e que são propícios a darem filhos aos seres humanos. Depois de alcançar
o que se desejou, enterra-se em um pé de árvore frutífera, cujo o tronco não se
consiga abraçar. Dentro deste grupo, temos o
óndè agbo omodé – que servem de proteção
para a saúde da criança. Este tipo de patuá não se despacha, até que a criança
atinja a adolescência e durante este período a mesma não pode estar ciente do
que se trata tal objeto.
óndè ìségun
òtá – para ter vitória sobre os inimigos ocultos e declarados. São
confeccionados para pessoas vitimas de perseguições e seus elementos
estão ligados as divindades que carregam espadas.
óndè ìlera –
para ter boa saúde, um do mais preciosos talismã, pois com saúde, teremos força
para a labuta e os “caminhos da vida”. Destinado as pessoas com a saúde frágil
ou debilitada e quando acamadas, pendura-se na cabeceira da cama um óndè
fun aláàrè que tem como objetivo afastar o mal de um doente.
Várias divindades dão “caminhos a boa saúde”, por mais incrível que possa
parecer até mesmo Nã Buku.
Temos ainda o mais elaborado de todos: o óndè àìkú – para
evitar a morte prematura; entretanto quando menciono “morte prematura”
estou me referindo aquele esta desviado de seu verdadeiro destino, pois “quando
Ikú chegar, não haverá médico para lhe curar nem advogado para lhe
defender”. Um patuá muito conhecido entre o povo-de-santo para esta
finalidade é o colar confeccionado em trança de palha-da-costa, no comprimento
acima do umbigo e com um ìkódíde em cada extremidade.
Após verificar no oráculo que o consulente não se encontra mais no “caminho
da morte”, este patuá deverá ser despacho cerimonialmente por aquele que o
preparou.
Na verdade, a procura do patuá ou talismã é feita principalmente
por quem se sente inseguro e conseqüentemente necessitado de maior proteção. Por
sua vez, o talismã não tem somente o poder de preservar o bem-estar físico e
mental de quem o usa, mas ajuda a reforçar as energias psíquicas dos onísègun
– médicos da Medicina Tradicional Iorubá.
Os amuletos e suas propriedades
O amuleto tem um papel grandemente defensivo, sendo algumas vezes
prescrito como um “feitiço passivo”, uma vez que é designado principalmente
para proteger quem o usa contra a desgraças ou malefícios. Dentro da Cultura
Ioruba ele se apresenta de várias formas: em fios de contas, pedras,
corais, búzios, palha-da-costa, pulseiras de marfim, ossos de animais e nos
mais variáveis metais. Os elementos do amuleto têm que corresponder com a
Divindade Tutelar que protege aquele que se submete a usar está proteção
mágico-religiosa, receber o àse do reino animal, vegetal e
mineral. Muitas vezes entre os citados, poderemos incluir os amuletos
confeccionados com pontas de chifres dos mais diversos animais, dos quais
carregam em seu interior um segredo. Os fios de contas denominados em Iorubá de
ìleke, merecem um estudo a parte, principalmente em
relação a “cerimonia de lavagem das contas”.
Baba Guido Oni Ajaguna
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