quinta-feira, 28 de maio de 2015

AMULETOS & TALISMÃS IORUBÁS



AMULETOS & TALISMÃS IORUBÁS
 

A proteção talismânica


Talismãs denominado no Idioma Iorubá de óndè, e em outras linhagens ìra, são objetos mágicos que podem ser usados com a finalidade de proteção na vida diária de um individuo. Pode ser usado com a intenção de opulência e poder, atrair a boa sorte, na vida financeira, assuntos amorosos, familiares e o mais importante de todos, para ter boa saúde. Alguns são de uso permanente, individual e intransferível, enquanto outros são de uso temporários. Suas funções se  sobrepunham em uma extensão considerável, mas a principal função do talismã é atrair influências psíquicas favoráveis, diferente do amuleto que dá um escudo defensivo contra adversidades de todos os tipos, incluindo o ataque de “espíritos malignos” denominados de AjogunOs Inimigos dos Homens. Cada um deles representa, portanto, um aspecto distinto da força mítica – o talismã, atrai o positivo, enquanto o amuleto, afasta o negativo.

O Patuá, nome popular dado ao talismã, deve ser confeccionado “sob encomenda”, ou seja, ter em seu interior um aglomerado de substâncias,  afim de agir sobre aquilo que lhe esta destinado a cumprir. Ele deve ser preparado em fase lunar correta, em lugar limpo, isto é, que seja psiquicamente estéril, ou, em outras palavras, absolutamente livre de todas as emanações malignas. Por esse meio o talismã é imbuído de qualidades magnéticas poderosas que atrairão a boa sorte em uma escala sempre em ampliação.

O talismã é um objecto consagrado que traz em si o àse, a força mágica das divindades a quem ele é consagrado. Confeccionados em couro dos mais diversos animais ou em tecidos resistentes ao tempo, em seu interior guarda-se os mais diversos ingredientes, tais como: raízes, folhas, sementes, flores, cascas, favas, ossos, pêlos de diversos animais, penas, sangue seco, terra, areia e minérios. Cada qual com seus ingredientes necessários, cada qual com suas cores e adornos correspondente ao propósito do óndè. Esses objetos mágicos e repleto de miticismo, tem sido empregados desde os tempos mais remotos, nas mais diversas crenças e culturas, em relação a qualquer situação ou atividade que se possa conceber.
  
Mas aonde estão os patuás afro-brasileiros?

Sem medo de equivocar-me, afirmo que estão em poder de poucos iniciados nesse mistério. Alguns religiosos afirmam que estes são dispensáveis, já que acreditam que apenas os ebo e o adimu oferendas, seja suficiente para solucionar os mais diversos problemas do consulente. Entretanto muitos trabalhos exigem a confecção do óndè, pois acredita-se que a oferenda solucione o problema em questão, mas que o patuá irá manter por um longo tempo esta energia positiva. Esse Saber Tradicional a cada dia vem se perdendo, esta sendo descolorado pela distância que existe no fechamento da informação. Quando menciono “Os mais velhos morrem e não divulgam tudo o que sabem, fizeram de travesseiro o seu saber”, isso é algo que deve ser analisado de dois pontos de vista. O primeiro é o awoo segredo, arma de guarda e defesa, e o segundo, um rigor seletivo na busca de discípulos dignos dos preceitos e fundamentos ritualísticos. Em nossa religião o saber sempre se realiza no real; "quem sabe, não sabe para si nem por si, sabe a partir da necessidade e para os fins". O conhecimento, o entendimento e a sabedoria, são três em um, este conjunto é ao mesmo tempo o segredo, a necessidade e a capacidade de materializar o conhecimento, transmutando mitos em ritos. Quanto mais conhecimento se adquire nesta jornada religiosa, tanto mais será a necessidade de ritos e práticas.

Outro fator a ser observado é a hostilidade da igreja, quando os primeiros eclesiásticos algumas vezes consideravam difícil distinguir entre invocações mágicas que eram proibidas e preces legítimas usadas em conjunção com talismãs e amuletos, e a Inquisição considerou criar um sistema de regras para remediar a situação. Um talismã ou amuleto era proibido se ele incorporasse qualquer intenção ou sugestão de pacto com Deuses e/ou Divindades de nomes desconhecidos, declarações não verdadeiras aos olhos do cristianismo, qualquer outro símbolo que não o Sinal da Cruz, quaisquer frases que não fossem da Bíblia. Finalmente, sua preparação tinha que ser desacompanhada de ritos supersticiosos e tinha que depender inteiramente da generosidade de Deus para sua efetividade. Logo o clero percebeu que não poderia impedir o uso dos patuás pelos negros, que os tiravam antes de entrar nas igrejas, mas voltavam a usá-los ao afastar-se dela. Decidiram, então, substituir os patuás africanos, que traziam seus “ingredientes mágicos”, por outro que trazia orações católicas, medalhas sagradas, agnus dei, etc.

Podemos encontrar os mais variados patuás a venda em lojas de artigos religiosos espalhadas por todo o território nacional, na famosa Feira de São Joaquim ou ainda no Mercado Modelo de Salvador – BA ou mesmo no Mercado da Madureira – RJ. Mas com todo respeito os consideram apenas como um produto comercial, pois fogem do verdadeiro conceito mágico-religioso. 

Isso me leva a lembrar de Eduardo Fonseca Júnior, que em sua obra, cito o DICIONÁRIO YORUBÁ (NAGÔ) – PORTUGUÊS, averba a seguinte palavra: óndè – subs. Enfeite costurado no couro e usado pelas pessoas como adorno. Se Fonseca está se referindo aos patuás produzidos em escala industrial, está mais do que correto; mas se tratando do óndè de origem Iorubá, está completamente equivocado. O valor que se paga nesses falsos patuás é ínfimo em comparação aos verdadeiro, é tão irrisório que vale a pena comprar um e abri-lo para se constatar o que há dentro deles “um recorte de jornal”.   
  
Os tipos de talismã


Os  óndè ìdáàbòbò conhecido no dito popular de “patuás de proteção”, podem carregar uma ou múltiplas funções de acordo com a necessidade de cada individuo. Entre eles temos:

lówó èpè, contra maldições; 
lówó ibi, contra o mal; 
lówó ìjà, contra brigas,  
lówó  ìjàmbá, sobreviver sem ferimentos a um acidente de carro; lówó òjijì, contra a morte súbita; 
lówó iro pipa momi, contra falsas acusações; 
lówó ojúkòkòrò, contra ganância;
lówó olè, contra ladrões; 
lówó ogbé, contra ferimentos de faca; 
lówó ò, contra inimigos; 
lówó àbìlù, contra trabalhos maléficos; 
lówó ejó, contra processos judiciais e 
lówó àgbéró àìlù, contra agressões de todos os tipos. 

Os óndè citadossão de uso individual e intransferível, pois durante seu preparo será adicionado um pertence do solicitante, deverá ser usado constantemente e conservado pela pessoa se assim desejar que este seja efetivo.

óndè oríire, tem a finalidade de atrair a boa sorte, podem ser de uso pessoal, ou ainda, pendurados atrás da porta de entrada de residências e comércios. Seus ingredientes variam de acordo com a energia que “trás a sorte” para dentro da casa ou do comércio. Sem duvida neste ultimo, na maioria da vezes tem como complemento o àse de Èsù.

óndè àwúre owó níní, por sua vez, são destinado para ganhar dinheiro; jekajè– de  forma rápida e ìtajàpara ter sucesso rápido nas vendas. Estes são usados em contato com o corpo, apenas durante a jornada de trabalho; além de ajudar nas vendas tem a função de proteger contra o “mau olhado” de outros colegas de trabalho, que podem inconscientemente invejar seu progresso. Seu conteúdo depende da divindade que proporciona  “caminho financeiro” ao consulente.

óndè òràn para processos judiciais, que deverá ser utilizado pelo solicitante doze dias antes do julgamento do processo e despachado somente após ser dado o veredito. Este tipo de patuá é um complemento dos trabalhos realizados nos caminhos de Sàngó e a esta divindade somente se pede aquilo que lhe é de direito, não serve para indivíduos que vivem a margem da sociedade; estes tem que “contar com a sorte” dos afòràn – trabalhos para escapar de processos na justiça.

óndè àwúre ìféràn para obter exito na vida amorosa, conseguir um relacionamento firme e duradouro. Existem várias pessoas que tem dificuldade de encontrar a sua “outra metade” e muitos consulentes procuram nossa religião com o intuito de sanar este tipo de problema que em muitos casos, causam transtornos. De imediato não se sabe a que momento este deverá ser despachado; pode ser antes ou depois do casamento. Dentro deste deverá conter o àse da divindade que dá “caminho sentimental” do consulente e nunca deverá conter o nome de um casal, aqui não se trata de “trabalhos de amarração”

óndè ìbímo são amplamente utilizados nos trabalhos para facilitar a concepção – ìmú obìrin l'óyún, de mulheres com problemas para engravidar; em muitos casos são usados para assegurar a gravidez ou evitar o aborto espontâneo – ìmú óyún dúró, do qual este deverá ser amarrado na cintura da gestante e para que o parto seja fácil – àwèbí. Este tipo de patuá é utilizado como um complemento dos complexos trabalhos ligados à Ìyámi Òsòròngà – Òsun – Yemojá – Òrìsà-nlá as divindades da fertilidade e que são propícios a darem  filhos aos seres humanos. Depois de alcançar o que se desejou, enterra-se em um pé de árvore frutífera, cujo o tronco não se consiga abraçar. Dentro deste grupo, temos o  óndè agbo omo – que servem de proteção para a saúde da criança. Este tipo de patuá não se despacha, até que a criança atinja a adolescência e durante este período a mesma não pode estar ciente do que se trata tal objeto.

óndè ìségun òtá – para ter vitória sobre os inimigos ocultos e declarados. São confeccionados para pessoas vitimas de perseguições e seus elementos estão ligados as divindades que carregam espadas.

óndè ìlera – para ter boa saúde, um do mais preciosos talismã, pois com saúde, teremos força para a labuta e os “caminhos da vida”. Destinado as pessoas com a saúde frágil ou debilitada e quando acamadas, pendura-se na cabeceira da cama um óndè fun aláàrè que tem como objetivo afastar o mal de um doente. Várias divindades dão “caminhos a boa saúde”, por mais incrível que possa parecer até mesmo Nã Buku.

Temos ainda o mais elaborado de todos: o  óndè  àìkú – para evitar a morte prematura; entretanto quando menciono “morte prematura” estou me referindo aquele esta desviado de seu verdadeiro destino, pois “quando Ikú chegar, não haverá médico para lhe curar nem advogado para lhe defender”. Um patuá muito conhecido entre o povo-de-santo para esta finalidade é o colar confeccionado em trança de palha-da-costa, no comprimento acima do umbigo e com um ìkódíde em cada extremidade. Após verificar no oráculo que o consulente não se encontra mais no “caminho da morte”, este patuá deverá ser despacho cerimonialmente por aquele que o preparou.

Na verdade, a procura do patuá ou talismã é feita principalmente por quem se sente inseguro e conseqüentemente necessitado de maior proteção. Por sua vez, o talismã não tem somente o poder de preservar o bem-estar físico e mental de quem o usa, mas ajuda a reforçar as energias psíquicas dos onísègunmédicos da Medicina Tradicional Iorubá. 
  
Os amuletos e suas propriedades
  
O amuleto tem um papel grandemente defensivo, sendo algumas vezes prescrito como um “feitiço passivo”, uma vez que é designado principalmente para proteger quem o usa contra a desgraças ou malefícios. Dentro da Cultura Ioruba ele se apresenta de várias formas: em fios de contas, pedras, corais, búzios, palha-da-costa, pulseiras de marfim, ossos de animais e nos mais variáveis metais. Os elementos do amuleto têm que corresponder com a Divindade Tutelar que protege aquele que se submete a usar está proteção mágico-religiosa, receber o àse do reino animal, vegetal e mineral. Muitas vezes entre os citados, poderemos incluir os amuletos confeccionados com pontas de chifres dos mais diversos animais, dos quais carregam em seu interior um segredo. Os fios de contas denominados em Iorubá de ìleke, merecem um estudo a parte, principalmente em relação a “cerimonia de lavagem das contas”.

Baba Guido Oni Ajaguna



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