sexta-feira, 29 de maio de 2015

ÌYÉ ORÒ – As Penas Sagradas e suas pinturas



   ÌYÉ ORÒ – As Penas Sagradas e suas pinturas



Ìkódíde, Agbè,
Àlùkò e Lékeléke 
as quatros penas sagradas 
de nossa religião.


Somente utilizadas dentro da ritualística e nunca como um simples adorno, são elementos primordiais e indispensáveis dentro dos ÌgbèrèRitos Iniciáticos e de Passagens de qualquer Divindade do Panteão Iorubá. Não existem penas semelhantes, são únicas em sua essência, simbologia e significado, ou seja, são insubstituíveis. Dentro do Corpo Literário e Doutrinário de Ifá são mencionadas nos mais diversos Oba Odú e seus Omo Odú. Darei um pequeno resumo sobre a simbologia de cada uma das penas sagradas e em seguida postarei trechos dos Ìtanversos de Ifá.

Ìkódíde trata-se de uma pena de coloração vermelha, extraída da cauda de uma espécie de papagaio africano Psittacus erithacus conhecido popularmente por  papagaio-cinzento, papagaio-do-Gabão ou papagaio-do-congo entre o povo iorubá é denominado de Odíde ou Odíderé. Tornou-se Rei entre todas as aves, simbolo da fecundação, da menstruação, da gestação, representa o nascimento e o simbolo do poder feminino. Representação da realeza, honra e status, esta acima da simbologia do AdéCoroa Real. Fixado a frente da cabeça, representa o processo iniciático e confirma os ritos de iniciação e/ou de passagem. 


Agbè - pena de coloração azul extraída da cauda de uma espécie de ave africana Touraco porphyreolophus, da família dos Musophagidae. Descritos nos mitos, como o pássaro que carregava a boa sorte e a riqueza para OlokunDivindade dos Oceanos. Para que possa agir tem que ser utilizada em contrapartida com o Àlùkò.


Àlùkò - pena de coloração púrpura (entre escarlate e violeta) extraída das asas da espécie de uma ave  africana  Touraco ruspolii da família dos Musophagidae. Descritos nos mitos, como o pássaro que carregava a boa sorte e a riqueza para OlosaA Divindade das Águas Doces. Da mesma família que sua irmã, somente age em companhia do Agbè

Lékeléke - pena de coloração branca, extraída da ave Bubulcus ibis conhecida popularmente por garça-vaqueira ou garça-boieira, nativa da África e do Sul da Europa, que invadiu a América do Norte no início do Século XX e atingiu o Brasil na década de 1960. Descritos nos mitos como o pássaro que carregava a boa sorte e a riqueza para Òrìsà Nla e toda a sua Família Real. Simbolo por excelência de todos os Òrìsà Funfun

Fragmentos dos Textos de Ifá


  1. Agbè ni i gbe're k'Olòkun, 
  2. Aluko ni i gbe're k'Olòsa, 
  3. Odidere-Moba-Odo, 
  4. Omo Agbegbaaje-ka ni  naa ni i gbe're k'Oluwoo.
  5. Gbogbo omi  ni i fori fOlòkun; 
  6. Gbogbo abata ni i fori fOlodò,      
  7. Ire gbogbo lagbara fi sin Olòkun 
  8. Ire gbogbo lagbara fi sin Olodò.
  9. Ire gbogbo


  1. O pássaro Agbè carrega a benção de Olòkun 
  2. O pássaro Àlùkò carrega a benção de Olòsa
  3. O papagaio do Rio Mogba, 
  4. descendência de um poderoso exército carrega uma cabaça com a fortuna para o Rei de Iwó.
  5. As águas doces prestam homenagem à Olòkun                         
  6. As águas do pântano prestam homenagem à Olòsa
  7. A Divindade dos Oceanos com todas as suas bençãos
  8. A Divindade das Águas Doces com todas as suas bençãos
  9. Todas as bençãos



Os pássaros Agbè e Àkùkò são agentes intermediários entre o poder da imensidão das águas. Oluwoo é um título do Rei de Iwó a Legendária Cidade, reduto da ave Odíderé.

  1. Ojúure l'Agbè fi í w'aró.
  2. Agbè won jí t'aró t'aró.
  3. Ojúure l'Àlùkò fi í w'osùn.
  4. Àlùkò won jí t'osùn t'osùn.
  5. Ojúure l'Lékeléke fi í w'efun.
  6. Lékeléke won jí re pel'efun.


  1. O pássaro Agbè desperta com aró.
  2. O pássaro Agbè olha com bondade para aró.
  3. O pássaro Àlùkò desperta com osùn.
  4. O pássaro Àlùkò olha com bondade para osùn.
  5. O pássaro Lékeléke desperta com efun.
  6. O pássaro Lékeléke olha com bondade para efun. 



Cântico da Sociedade Gelede
  1. Agbe ló l’aró, kìí rá’hùn aró.
  2. Àlùkò ló l’osùn, kìí rá’hùn osùn.
  3. Lékèélékèé ló l’efun, kìí rá’hùn efun.


  1. O pássaro Agbè não se lamenta por muito tempo ao aró
  2. O pássaro Àlùkò não se lamenta por muito tempo ao osùn
  3. O pássaro Lékèélékèé não se lamenta por muito tempo ao efun




Neste fragmento dos Textos Sagrados de Ifá relata a ligação das aves Agbè, Àlùkò e Lékeléke com as pinturas sagradas aró (pó de coloração azul, extraída da árvore Indogofera tinctoria), osùn (pó de coloração vermelha, extraída da árvore Pterocarpus osun) e efun (pó de coloração branca, extraído das minas de calcário)

A expressão “despertar” tem a conotação de “ao amanhecer de cada dia” as aves sagradas carregam em si o poder e a essência de três dos quatros Oba Odú primordiais da Existência Universal: Ogbè Méjì relacionado com o efun, Òyèkú Méjì e sua relação com o osùn e ligação de Ìwòri Méjì com o aró


O fato de não se “lamentar por muito tempo, algum tipo de infortúnio” está baseado em uma oferenda denominada de Adimu destinado à Ìyá mi Òsòròngà cujo os principais ingredientes são as referidas penas e pinturas. 


Baba Guido Oni Ajaguna




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