HONESTIDADE – REFLEXÕES
Odù Ògúndá Ogbe
“Um presságio de morte por ganância e dinheiro”
A mensagem em epígrafe nos revela um dos aspectos mais importante que devemos temer principalmente dentro do contexto religioso, a Honestidade para com nossos semelhantes e com todas as estruturas que implica esse conceito.
A honestidade é uma qualidade do Ser Humano que consiste em comportar-se e expressar-se com coerência e sinceridade, de acordo com os valores de verdade e justiça. Em seu sentido evidente, a honestidade pode entender-se como o simples respeito com a verdade em relação ao mundo em que e as pessoas que nos cercam; em outras palavras, a honestidade também implica na relação entre o sujeito e os demais, e do sujeito consigo mesmo.
Numa época em que os valores morais são espezinhados com o cinismo mais deslavados de inescrupulosos sacerdotes, é preciso reacender no coração desta nova geração de seguidores, a chama sagrada da honestidade que aureolavam tantos de nossos maiores. É sentimento partilhado por muitos que nosso país atravessa uma crise de caráter particularmente aguda. Crise essa que obriga muitos adeptos a usufruir da religião apenas comercialmente.
“Meu candomblé é comercial” é o mais novo slogan dos milhares de sacerdotes e sacerdotisas existentes em nosso país. A exploração que alguns sacerdotes fazem com seus filhos-de-santo e seguidores são imorais e antiéticos, e necessita urgentemente de grandes reflexões. Como diz o dito popular “Tudo tem um preço a se pagar”, mas enquanto uns consideram um preço justo outros o consideram abusivo. Cobram valores que estão fora da realidade para iniciar e consagrar; obrigações de 1, 3, 5, 7, 14 e 21 “quanto mais anos mais alto o valor”; muitos de nossos entes queridos ficam sem seus ritos fúnebres pelo simples fato da família não ter fundos para pagar a “mão de obra” de um dos ritos indispensáveis - o Axexê. De certo que se tenta criar a ideia de que quanto mais dinheiro, mais axé, e assim torna-se o comércio. “Cobrar” ou “Salvar” o “Chão” ou a “Mão” é entendido como axé, mas exploração é agir “desonestamente”. Caso de desonestidade nos mais alto círculo do povo-de-santo, já não estarrecem os tradicionalistas pela sua frequência. São tantos e tão acintosos os atentados contra o “público religioso” que quase se diria que a honestidade é a exceção e não a regra. Todos intuitivamente pressentem que o futuro da religião esta comprometida se esse estado de exploração perdurar.
Todos têm o dever de zelar pela dignidade da Tradição e Cultura Afrodescendente, sendo este o papel preponderante de todos os verdadeiros sacerdotes. Realizar rituais religiosos sem que firam sua tradição de origem e sejam contrários aos ditames de sua consciência; que sigamos nossos rituais e costumes legados por nossos antepassados, sem a exploração religiosa; em outras palavras ser honesto é uma postura ética que precisa ser levada em consideração.
A consulta ao oráculo owó mérìndílógún conhecido popularmente por “jogo de búzios” antes exercido somente por grandes e sábios sacerdotes e sacerdotisas, de forma extremamente sagrada e com a finalidade de orientar as pessoas no caminho da verdade, apaziguar o mal que aflige o consulente, hoje manipulado em praças públicas, viadutos, feiras esotéricas, shoppings, internet, sem falar no mais famoso “disque búzios” e no estarrecedor “0900″, que tanto entristecem os tradicionalistas e marcaram a decadência de nossa estimada religião. Salvo os verdadeiros “olheiros de mesa” o clima moral que cresce a geração de “jogadores de búzios” é tal que ganha pé a noção de que o supremo alvo da existência é o êxito financeiro pelo qual se pagará qualquer preço. Considero o êxito sobre tudo o financeiro o mais novo deus do século XXI, e em seu altar se sacrifica tudo, mesmo a honra. O que importa para os seguidores desse “pseudo-deus” é avançar, progredir, enriquecer ainda que sobre a ruína de todas as virtudes que fizeram a grandeza de nossa religião. A exaltação das riquezas materiais em detrimento dos valores do espírito é um sintoma de decadência. No momento que for renunciado por completo os valores espirituais que inspiram a passada grandeza de nossa religião, ela se desintegrará. A ambição desenfreada por dinheiro luxuria e prazeres excessivos atuam como um dissolvente do caráter. A ganância que calca sob os pés todos os escrúpulos da moral religiosa e que caracteriza nossa religião é prenúncio da derrocada próxima, que não tarda a se realizar. Como uma bola de neve que começa a rolar do alto de um monte a princípio pequena e morosa; depois acrescida de flocos que se lhe aderem ao longo do trajeto, vencido agora com maior rapidez, e que finalmente se avoluma numa avalanche irresistível e vertiginosa, assim são os vícios que arrastam os povos à ruína. Mortos os valores espirituais, nada restará senão lamentar-se sobre os despojos. Embora o êxito não seja a medida de todo o trabalho, nem o summun bonum da existência, e por ele nunca se devam sacrificar os valores morais, não se conclua que não deva ser ambicioso por todo jovem de visão. Como regra, o êxito é o prêmio habitual do trabalho diligente e honesto. A prosperidade construída sobre o alicerce das transações honestas é duradoura e resiste com vantagem aos vendavais da adversidade. Edifica sobre a areia movediça do subterfúgio, do engano e da fraude tombará ao menor sopro. Em todo o caso não resistirá o desonesto ao escrutínio infalível do Juiz Universal, no derradeiro acerto de contas. “O Ser Supremo não liquida suas contas cada dia, mas Ele as liquida de uma vez no final dos dias.” Não se pergunta aos nouveaux riches religieuses de hoje como alcançaram a fortuna, assim como não se inquire dos políticos como angariaram votos, se pelo suborno ou pela fraude. Isso é secundário. O êxito é o passaporte que lhes franqueia a entrada a todos os círculos sociais. Entretanto, celebres sacerdotes e sacerdotisas que deixaram este mundo mais rico
simplesmente pela sua presença não foi um “êxito”, segundo a concepção corrente do termo. Não alcançaram êxito segundo os padrões modernos; não fizeram fortuna; não gozaram de popularidade em seus dias; não sorveram a taça dos prazeres. Colocaram a justiça e o amor acima do “êxito”, e nós hoje os chamamos bem-aventurados. Uma das mais celebre Ìyálòrìsà que o Brasil conheceu, certo dia revelou que a pouca riqueza que adquiriu enquanto seu oficio de dirigente de um dos mais tradicionais Terreiros da Bahia, foi para custear a faculdade de suas duas filhas e que ela mesma nunca tivera sequer um diploma.
Dado que as intenções se relacionam extremamente com a justiça e com os
conceitos de "honestidade" e "desonestidade", existe uma confusão muito complexa acerca do verdadeiro sentido deste término. Entretanto, nem sempre somos conscientes do grau de honestidade o desonestidade de nossos atos. Ser honesto é ser real, de acordo com a evidencia que se apresenta ao mundo e seus diversos fenômenos e elementos; é ser genuíno, autentico e objetivo em seus atos. A honradez é uma consequência particular de ser honesto e justo. Não é o mero reconhecimento das emoções. Ser honesto implica na analise de que tão verdadeiros são nossos sentimentos que decidimos buscá-lo em favor de fazer o bem ao próximo e a si mesmo. Não é a desordenada abertura da própria intimidade, implica a verdadeira sinceridade, com as pessoas adequadas em momentos corretos. Não se trata da atitude cínica e impudica pelo que se fala de qualquer fato ou pessoa, a franqueza tem como prioridade o reconhecimento da verdade e não da desordem. Ser desonesto é ser falso, injusto, impostado, fictício. A desonestidade não respeita a pessoa em si mesma e busca a sombra, o encobrimento: é uma disposição a viver na obscuridade.
O auto-engano faz com que perdemos a perspectiva e o respeito a honestidade de nossos próprios atos, obviando todas aquelas visões e noções que puderam alterar nossas decisões. Colocar-se ao lado da verdade é colocar-se ao lado do que é permanente. O erro pode triunfar por um momento. Nada tem, porém, de substancial e duradouro. Como uma nota dissonante fadada ao olvido. Só a verdade permanece para sempre. Os que a ela aderem com amor tornam-se candidatos à imortalidade. A honestidade, em troca, terá uma vida plena de confiança, sinceridade e aberturas de novas possibilidades, e expressa a disposição de viver a luz da verdade, a luz de nosso espírito e a luz de nossa religião.
Um forte abraço a todos e seguimos triunfando.
Ímò Baba....Paranéns....abraços.
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ResponderExcluirMuito bom, Baba Guido venho aqui te parabenizar por esse riquissimo blog.
ResponderExcluirobrigado pelos ensinamentos.