terça-feira, 7 de julho de 2015

O KÈLÈ E O RECÉM INICIADO




O KÈLÈ E O RECÉM INICIADO




Para um melhor entendimento, julga-se necessário saber a etimologia da palavra Kèlè. O termo de origem Iorubá, idioma falado na Nigéria, designa todos os fios de contas vermelho e branco, usados ao redor do pescoço dos recém iniciados e consagrados à SàngóA Divindade dos Trovões.
A principio, nos parece estranho o fato acima descrito, mas não podemos nos esquecer e sim lembrarmos, que a Religião dos Iorubás, foi reestruturada, reorganizada e recriada nas bases fundamentadas do Culto de Sàngó. Somente há nível de informação, a palavra Osu – aglomerado de substância mágico religiosa, pertencia única e exclusivamente ao Culto do Deus do Trovão, e este é usado na iniciação de todas as divindades trazidas do outro lado do Atlântico.
Limitando-se em tal assunto, e voltando ao Kèlè, esse tem os mais variados estilos em relação aos tipos de contas utilizadas, os números de gomos e fios. O Kèlè vária de Linhagem para Linhagem, ou seja, de Terreiro para Terreiro, podendo ser confeccionado de um único fio de firmas; três, sete, quatorze e 21 fios de contas com gomos e firmas ou simplesmente um fio todo de búzios.
Cada Terreiro de Candomblé, dá o seu parecer em particular do significado próprio do Kèlè, do qual confesso que são inúmeros; Muito tem se discutido a verdadeira função do Kèlè, alguns cheios de mistérios, enquanto outros cheios de fantasias. Citaremos como exemplo, aquilo que se encontra no Wikipédia a base de pesquisa de muitos adeptos de nossa religião.
[O Kelê é uma aliança que tem a finalidade de unir o sagrado com o iniciado, num simbolismo de casamento perfeito com o seu orixá, usando restritamente no pescoço, na iniciação, obrigação de três, sete, quatorze e vinte e um anos de feitura] [Depois de um período que pode variar de 12, 14, 16, 21 e até mesmo três meses da obrigação ritualística, a "joia" do orixá como também é chamada, é determinado pelo orixa, através do merindilogun a ser colocada no assentamento sagrado "Igba orixa", podendo permanecer até a ultima obrigação do iniciado chamada de axexê, quando este objeto tão sagrado e místico é desfeito] do qual cita apenas uma referência, o livro Awô, O mistério dos Orixás. Editora Pallas, escrito pela francesa Giselle Cossard, conhecida entre o povo de santo pelo nome de Omindarewá.
Tenho que descordar de vários pontos, pois em meu conhecimento e entendimento, a “aliança que une o iniciado ao sagrado”, são os ritos da iniciação e não um “emaranhado de fios presos por firmas”. Além do mais, se assim houvesse a necessidade de nomear a representação dessa “suposta aliança” seria o Osu, do qual sua simbologia está acima da figura do Kèlè.
Nos Terreiros Tradicionais de Salvador, o Kèlè não pertence ao noviço e muito menos ao Òrìsà Tutelar, ele é uma “Propriedade do Axé”, do qual o próximo recluso, terá a honra de usá-lo. Não podemos interpretar esse costume e tradição remota de forma pejorativa, quando na realidade ele seja um objeto sagrado de uso comunitário e não somente individual.
Esse adorno sagrado, assim como todos aqueles apetrechos usados no corpo do ìyáwò são de caráter sagrado, o Kèlè antes de ser usado pelo futuro noviço é cuidadosamente desmanchado, suas contas são enfiadas novamente em cordão de algodão virgem e lavadas ritualisticamente. O cordão de algodão retirado do interior das contas, fragilizado pelo tempo e uso, impregnados de substâncias sagradas e fluidos corporais daquele que o usou; é cuidadosamente identificado e guardado. Enquanto em outras ramas, simplesmente o despacham.
Em uma colocação muito particular, em meu Terreiro se faz uso do Kèlè apenas duas vezes: quando da “iniciação e consagração” e quando se completa o “ciclo iniciático”, ou seja no “sétimo ano”. Importante ressaltar, que a mesma forma ocorre na maior parte dos Terreiros Tradicionais da Bahia.
No principio do Candomblé, o Kèlè servia principalmente para identificar o “santo da noviça”, já que a reclusão dos futuros iniciados chegavam entorno de vinte pessoas, de várias divindades; e de imediato seria muito difícil memorizar o Òrìsà de cada uma das noviças, fato esse que não poderia haver qualquer tipo de confusão. O Kèlè permanecia preso ao pescoço da ìyáwò durante todo o período do “preceito religioso”, do qual durava de três meses à um ano. Quando fosse permitido a ìyáwò atravessar a porteira da casa de candomblé, ela usava seu pano da costa de maneira especial, de modo que esse cobria o seu Kèlè, pois não interessava ao povo de santo do lado de fora, a qual Òrìsà lhe pertencia.
Se por ventura ou força maior a ìyáwò fosse obrigada a passar o resguardo sem o uso do Kèlè, esse era retirado de seu pescoço e colocado encima do assentamento de seu Òrìsà e a mesma continuaria cumprindo rigorosamente seus preceitos, carregando ou não aquele que um dia lhe serviu para lembrar as pessoas de qual santo ela pertencia.

Baba Guido Olo Ajaguna.

Um comentário:

  1. Eu aprendi que cada firma no caso são 7 representa os 7 Anos de sacrificio do Yawô até chegar a maioridade.

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