O
KÈLÈ E O RECÉM INICIADO
Para um melhor entendimento,
julga-se necessário saber a etimologia da palavra Kèlè.
O termo de origem Iorubá, idioma falado na Nigéria, designa todos
os fios de contas vermelho e branco, usados ao redor do pescoço dos
recém iniciados e consagrados à Sàngó
– A Divindade dos Trovões.
A principio, nos parece estranho o
fato acima descrito, mas não podemos nos esquecer e sim lembrarmos,
que a Religião dos Iorubás, foi reestruturada, reorganizada e
recriada nas bases fundamentadas do Culto de Sàngó.
Somente há nível de informação, a palavra Osu
– aglomerado de substância mágico religiosa, pertencia única e
exclusivamente ao Culto do Deus do Trovão, e
este é usado na iniciação de todas as divindades trazidas do outro
lado do Atlântico.
Limitando-se em tal assunto, e
voltando ao Kèlè, esse tem os mais variados estilos
em relação aos tipos de contas utilizadas, os números de gomos e
fios. O Kèlè vária de Linhagem para Linhagem,
ou seja, de Terreiro para Terreiro, podendo ser confeccionado
de um único fio de firmas; três, sete, quatorze e 21 fios de contas
com gomos e firmas ou simplesmente um fio todo de búzios.
Cada Terreiro de Candomblé, dá o
seu parecer em particular do significado próprio do Kèlè,
do qual confesso que são inúmeros; Muito tem se discutido a
verdadeira função do Kèlè, alguns cheios de
mistérios, enquanto outros cheios de fantasias. Citaremos como
exemplo, aquilo que se encontra no Wikipédia a base de
pesquisa de muitos adeptos de nossa religião.
[O
Kelê é uma aliança que tem a finalidade de unir o sagrado com o
iniciado, num simbolismo de casamento perfeito com o seu orixá,
usando restritamente no pescoço, na iniciação, obrigação de
três, sete, quatorze e vinte e um anos de feitura] [Depois
de um período que pode variar de 12, 14, 16, 21 e até mesmo três
meses da obrigação ritualística, a "joia" do orixá como
também é chamada, é determinado pelo orixa,
através do merindilogun a ser colocada no assentamento sagrado "Igba
orixa",
podendo permanecer até a ultima obrigação do iniciado chamada de
axexê,
quando este objeto tão sagrado e místico é desfeito]
do
qual cita apenas uma referência, o livro Awô,
O
mistério dos Orixás. Editora Pallas, escrito pela francesa Giselle
Cossard, conhecida entre o povo de santo pelo nome de
Omindarewá.
Tenho
que descordar de vários pontos, pois em meu conhecimento e
entendimento, a “aliança que une o iniciado ao sagrado”, são os
ritos da iniciação e não um “emaranhado de fios presos por
firmas”. Além do mais, se assim houvesse a necessidade de nomear a
representação dessa “suposta aliança” seria o Osu,
do qual sua simbologia está acima da figura do Kèlè.
Nos
Terreiros Tradicionais de Salvador, o Kèlè
não pertence ao noviço e muito menos ao Òrìsà
Tutelar,
ele é uma “Propriedade
do Axé”,
do
qual o próximo recluso, terá a honra de usá-lo. Não podemos
interpretar esse costume e tradição remota de forma pejorativa,
quando na realidade ele seja um objeto sagrado de uso comunitário e
não somente individual.
Esse
adorno sagrado, assim como todos aqueles apetrechos usados no corpo
do ìyáwò
são
de caráter sagrado,
o Kèlè
antes de ser usado pelo futuro noviço é cuidadosamente desmanchado,
suas contas são enfiadas novamente em cordão de algodão virgem e
lavadas ritualisticamente. O cordão de algodão retirado do interior
das contas, fragilizado pelo tempo e uso, impregnados de substâncias
sagradas e fluidos corporais daquele que o usou; é cuidadosamente
identificado e guardado. Enquanto em outras ramas, simplesmente o
despacham.
Em
uma colocação muito particular, em meu Terreiro se faz uso do Kèlè
apenas duas vezes: quando da “iniciação e consagração” e
quando se completa o “ciclo iniciático”, ou seja no “sétimo
ano”. Importante ressaltar, que a mesma forma ocorre na maior parte
dos Terreiros Tradicionais da Bahia.
No
principio do Candomblé, o Kèlè
servia principalmente para identificar o “santo da noviça”, já
que a reclusão dos futuros iniciados chegavam entorno de vinte
pessoas, de várias divindades; e de imediato seria muito difícil
memorizar o Òrìsà
de cada uma das noviças, fato esse que não poderia haver qualquer
tipo de confusão. O Kèlè
permanecia preso ao pescoço da ìyáwò
durante todo o período do “preceito religioso”, do qual durava
de três meses à um ano. Quando fosse permitido a ìyáwò
atravessar a porteira da casa de candomblé, ela usava seu pano da
costa de maneira especial, de modo que esse cobria o seu Kèlè,
pois não interessava ao povo de santo do lado de fora, a qual Òrìsà
lhe pertencia.
Se
por ventura ou força maior a ìyáwò
fosse obrigada a passar o resguardo sem o uso do Kèlè,
esse era retirado de seu pescoço e colocado encima do assentamento
de seu Òrìsà
e a mesma continuaria cumprindo rigorosamente seus preceitos,
carregando ou não aquele que um dia lhe serviu para lembrar as
pessoas de qual santo ela pertencia.
Baba
Guido Olo Ajaguna.
Eu aprendi que cada firma no caso são 7 representa os 7 Anos de sacrificio do Yawô até chegar a maioridade.
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