ÌYÙN
– O Coral como Símbolo da
Realeza
“Tenho
o dever e a obrigação
de
deixar nesse mundo,
uma
religião melhor esclarecida,
de
quando um certo dia,
tive
o privilégio e a honra
de
ser iniciado nos mistérios
dos
deuses africanos”
Baba
Guido Olo Ajaguna
Corais
são animais cnidários
da classe Anthozoa,
que segregam um exosqueleto
calcário
ou de matéria orgânica, ao contrário das anêmonas
do mar,
que pertencem à mesma classe. Os indivídos adultos são pólipolos
individuais ou coloniais e encontram-se em todos os oceanos. Os
corais podem ser divididos em dois tipos principais. Os corais duros
possuem um esqueleto esteno rígido e ocorrem numa variedade de
tamanhos e fomas tal como se pode ver nas imagens. Os
corais moles as gorgonêas tais como os leques marinhos os chicotes
marinhos, não possuem um esqueleto externo e movimentam-se com as
correntes. Os corais podem constituir colônias coloridas e podem
formar recifes de grandes dimensões que albergam um ecossistema com
uma grande biodiversidade e produtividade. O
maior recife de coral vivo encontra-se na Grande
Barreira de Coral,
na Costa
da
Quensland,
Australia,
que é considerado o maior indivíduo vivo da Terra. A maioria das
espécies de coral que constroem recifes desenvolve-se em águas
tropicais e subtropicais, mas podem encontrar-se pequenas colonias
de coral até em águas frias, como ao largo da Noruega.
O
coral pode ser branco, rosa, azul, preto, vermelho, mas a cor mais
valorizada sempre foi o vermelho, encontrado nas Ilhas Canárias, no
Japão e na Austrália. Esse
enigmático ser marinho, forma uma estrutura dura, rochosa, criada
pelos depósitos de cálcio feitos por minúsculos pólipos marinhos.
Para
obter a gema, as partes moles são retiradas sobrando apenas a parte
calcária, dessa forma, são utilizados somente os esqueletos
calcários
desses organismos vivos. A pedra de coral pode ser trabalhada
industrialmente ou artesanal, com exceção do coral azul, que pelo
fato de sua dureza, não o permite ser transformado manualmente.
Assim como o marfim, o âmbar e a pérola, o coral é ao mesmo tempo
uma pedra e gema
orgânica, pois sua parte calcária,
é retirado de um ser vivo.
A
aplicação mágica e medicinal do coral, remota de épocas antigas
nas mais diversas culturas do mundo. O coral
esta cercado de mistérios e magias. Acreditava-se que antigos
feiticeiros possuíam a habilidade para detectar veneno em alimentos
e bebidas com o uso de corais. Era comum as crianças da antiga Roma
usarem um pedaço de coral num colar para se proteger contra
feiticeiros e demônios. Em outras partes do mundo, era usado como
amuleto para aumentar a sabedoria, afastar os fantasmas e outras
desgraças. Entretanto, é provável que o coral seja mais conhecido
por seu uso, na Itália, como um poderoso anti feitiço e contra o
temível mal
d'occhio (mau-olhado).
O coral é uma pedra sagrada para os povos tribais da Polinésia e
ilhas havaianas. No simbolismo dos índios Pueblos,
é uma das quatro pedras dementais.
No
século XVII, o coral era transformado em pó, misturado ao vinho ou
água e ingerido, para purificar o sangue, aumentar a beleza e curar
fluxos da barriga, disfunções do útero, ataques nervosos,
convulsões, e até mesmo hemorroidas. O coral em pó também era
usado nos antigos feitiços contra tempestades e os perigos da
alimentação. Como pedra de cura, o coral estimula a energia sexual,
auxilia a fertilidade e remove impurezas do sangue e da aura. Também
chamado de Sangue
dos Deuses,
fortalece o sentimento do amor, a necessidade de relacionamento e
amizade, protege da influência de pessoas más e invejosas, ameniza
depressões, proporciona energia, alegria, vitalidade. Na meditação,
o coral nos inunda com maior energia vital e rompe bloqueios
espirituais e mentais; nossa circulação relaxa e temos uma sensação
maravilhosa de tranquilidade e satisfação. Através do amor que
sentimos e compartilhamos, também recebemos mais amor de outras
pessoas. Pode ser indicado para
a
necessidade de relacionamento e amizade, influência de pessoas más
e invejosas, depressões, energia, alegria e vitalidade, energia
vital, bloqueios espirituais e mentais, tranquilidade.
O
coral protege contra doenças infecciosas do sangue. Também protege
a mulher durante a gravidez e deformações do feto. Tem efeitos
fortalecedor sobre o coração e a circulação sanguínea, o
estômago e o fígado, purifica o sangue e auxilia no tratamento dos
distúrbios da menstruação da mulher, prevenindo infertilidade e
falta de apetite sexual no relacionamento. Doenças
infecciosas e do sangue, gravidez, coração, circulação, estômago,
fígado, sangue, distúrbios da menstruação, infertilidade e falta
de apetite sexual. Com a reputação de ser eficaz no tratamento de
males como alergias, artrite, asma, infecções da bexiga,
deficiência de cálcio, congestão, tosse, depressão, indigestão,
problemas pulmonares e fraqueza muscular.
Fatores,
tais como, a poluição,
a pesca predatória e o aquecimento das águas, estão extinguindo os
recifes de corais, e os que sobrevivem, estão graduadamente perdendo
sua coloração original. São raros os corais vermelhos, aliás, sua
venda foi proibida tem alguns anos. Na atualidade, o coral vermelho é
tingido, mas esse processo químico, não o faz deixar de ser o que
é, apenas uma peça alterada pelo homem, que perde parte de sua
valia, mas não de sua beleza.
Os
“fios de contas” que circulam pelo sagrado das religiões
afro-brasileira, que comportam em sua composição contas de corais,
identifica a situação e posição de um indivíduo dentro da
Comunidade Terreiro. As contas de coral, em especial as de coloração
vermelha, são consideradas nobres e conceitualmente de valor
hierárquico. Grande parte dos Terreiros Tradicionais de Salvador-BA,
somente admitem o uso desse tipo de conta, para aqueles que
concluirão seu ciclo iniciático, ou seja, para aqueles que tenham
obrigação de sete anos, conhecida entre o povo de santo de
ODUN
IJE.
Entre
a categoria de fios de contas de grande sinal diacrítico, que merece
destaque, são os RUNJEVE
ou
RUNJEBE. Um
tipo de colar
sagrado, hierárquico, heráldico e condecorativo, de propriedade do
Jeje
– Culto aos Voduns,
mas que tem sido agregado ao Culto
aos Orixás e Inquices.
Histórias antigas contam que o tradicional HUNJEBE,
era confeccionado com pedras
de terra cota, corais
vermelhos e um tipo de
conta de azul,
denominada de SEGI.
Com o decorrer do tempo, ocorreu diversas substituições, onde a
terra
cota foi substituída
por miçangas marrom; o coral e o segui por contas de diferentes
materiais, preservando a cor e textura de ambas as peças. O
principal fator substituto, da terra cota e do coral, se da ao fato
do fator sócio econômico, o que não ocorre com os legítimos SEGI,
pois essa raríssima conta azul, esta extinta e não mais disponível
no mercado, visto que a pedra que dá origem ao SEGI,
está extinta a décadas.
Muitas
linhagem de descendentes da Nação
de Ketu, não agregaram
em seus costumes , o uso do HUNJEVE,
assim elaborando diversos tipos de fio de conta para serem usados
depois da obrigação de sete anos. Mas uma coisa é certa, em
qualquer um deles não pode deixar de faltar as contas de corais.
Na
Tradição e Cultura dos Iorubás, consideram o coral, um dos seres
mais antigos das profundezas dos oceanos, a mais de 450 milhões de
anos. Seu verdadeiro nome é ÒKÚTA WÀ YÍ'DÒ
– Pedra que vive em colonias,
citado em vários mitos de OLÓÒKUN.
O palavra ÌYÙN
utilizado corretamente para as contas de coral, tornou-se um termo
genérico, para a designação do coral bruto e lapidado.
Um
ITAN
relacionado ao ODÙ
ÌWÒRI
MÉJÌ (um
dos quatro principais signos da criação) relata que o Coral, antes
de vir ao nosso mundo realizou uma oferenda, com o intuito de ser
recebido
na Terra com júbilo, ter o merecido respeito de todos e o título da
realeza...
Diversos
são os ODÙ
que
relatam a obrigatoriedade do ÒKÚTA
WÀ YÍ'DÒ
em assentamentos de determinados ÈSÚ,
cito alguns exemplos: em OGBE
ÒTÚRÁ
relata
ÈSÚ
OBAKERE
e
ÈSÚ
LALU...
em ÒFÚN
ÌWÒRI
relata ÈSÚ
KARUGBO...
em ÒSÁ
ÒWÓNRÍN
relata
ÈSÚ
DEKE...
em ÒGÚNDÁ
OGBE
relata
ÈSÚ
IJELU...
em ÒGÚNDÁ
ÒWÓNRÍN
relata
ÈSÚ
MASANKIO...
em ÒTÙRÚPÒN
ÌRETÈ
relata ÈSÚ
LAJIBORI...
em ÒTÚRÁ
ÌRÒSÙN
relata
ÈSÚ
LODE...
em ÒTÚRÁ
ÒSÁ
relata
ÈSÚ
ALAWANILEBA...
em ÒTÚRÁ
ÒFÚN relata
ÈSÚ
OBINA....
entre outras citações...
Os
iniciados em
IFÁ
que
pertencem ao ODÙ
ÒFÚN ÒGÚNDÁ,
ÒDI
ÒWÓNRÍN,
ÌKÁ
ÒSÉ
e
ÒGÚNDÁ
ÒTÚRÁ
tem a obrigatoriedade do uso de fios de corais... assim como os
filhos de ÒTÙRÚPÒN
ÌRÒSÙN
carreguem
em seus IDEFÁ
as respectivas contas... Um mito relacionado ao ODÙ
ÒWÓNRÍN
ÒSÁ
faz
menções sobre os pescadores de corais... outro mito ligado ao ODÙ
ÌKÁ
ÌRÒSÙN
relata
sobre o Pássaro
Ladrão
que para fugir do carcere, subornou os guardas da prisão, com belas
contas de corais... Um ITAN
relacionado ao ODÙ
OGBE
ÒGÚNDÁ
relata que os ÒRÌSÀ
YÉWÀ – ÒBÁ
– ÒSUN
carreguem contas de corais em seus ILEKE...
Assim
como em outras culturas, os corais tem suas aplicações medicinais;
são amplamente empregados na Medicina Tradicional Ioruba,
onde podemos constatar, o uso do
pó de coral, em vários ÀGÚNMÚ
(Àba
– porção + Gúnpò
– macerar + Mú
– beber); Como
seu nome indica, este tipo de manipulação, consistem em certo
ingredientes que após serem triturados em um almofariz, são secos
ao sol, pulverizados e ingeridos com algum tipo de líquido. Podemos
constatar no ODÙ
ÒFÚN ÒSÉ
a
utilização desse pó, para problemas de saúde... em ÒSÉ
ÒGÚNDÁ
para
tratar de tumores no reto... em
ÌRETÈ
ÒTÚRÁ
para
melhorar a memória... e várias outras receitas
inseridas em diversos Signos de IFÁ.
Em
qualquer parte desse mundo, podemos concluir que o coral está
associado com as ciências ocultas e seus mistérios. Um símbolo
real, aristocrático e de adorno cerimonial.
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