quinta-feira, 18 de junho de 2015

ÌYÙN – O Coral como Símbolo da Realeza



ÌYÙNO Coral como Símbolo da Realeza



Tenho o dever e a obrigação
de deixar nesse mundo,
uma religião melhor esclarecida,
de quando um certo dia,
tive o privilégio e a honra
de ser iniciado nos mistérios
dos deuses africanos”

Baba Guido Olo Ajaguna



Corais são animais cnidários da classe Anthozoa, que segregam um exosqueleto calcário ou de matéria orgânica, ao contrário das anêmonas do mar, que pertencem à mesma classe. Os indivídos adultos são pólipolos individuais ou coloniais e encontram-se em todos os oceanos. Os corais podem ser divididos em dois tipos principais. Os corais duros possuem um esqueleto esteno rígido e ocorrem numa variedade de tamanhos e fomas tal como se pode ver nas imagens. Os corais moles as gorgonêas tais como os leques marinhos os chicotes marinhos, não possuem um esqueleto externo e movimentam-se com as correntes. Os corais podem constituir colônias coloridas e podem formar recifes de grandes dimensões que albergam um ecossistema com uma grande biodiversidade e produtividade. O maior recife de coral vivo encontra-se na Grande Barreira de Coral, na Costa da Quensland, Australia, que é considerado o maior indivíduo vivo da Terra. A maioria das espécies de coral que constroem recifes desenvolve-se em águas tropicais e subtropicais, mas podem encontrar-se pequenas colonias de coral até em águas frias, como ao largo da Noruega.

O coral pode ser branco, rosa, azul, preto, vermelho, mas a cor mais valorizada sempre foi o vermelho, encontrado nas Ilhas Canárias, no Japão e na Austrália. Esse enigmático ser marinho, forma uma estrutura dura, rochosa, criada pelos depósitos de cálcio feitos por minúsculos pólipos marinhos. Para obter a gema, as partes moles são retiradas sobrando apenas a parte calcária, dessa forma, são utilizados somente os esqueletos calcários desses organismos vivos. A pedra de coral pode ser trabalhada industrialmente ou artesanal, com exceção do coral azul, que pelo fato de sua dureza, não o permite ser transformado manualmente. Assim como o marfim, o âmbar e a pérola, o coral é ao mesmo tempo uma pedra e gema orgânica, pois sua parte calcária, é retirado de um ser vivo.

A aplicação mágica e medicinal do coral, remota de épocas antigas nas mais diversas culturas do mundo. O coral esta cercado de mistérios e magias. Acreditava-se que antigos feiticeiros possuíam a habilidade para detectar veneno em alimentos e bebidas com o uso de corais. Era comum as crianças da antiga Roma usarem um pedaço de coral num colar para se proteger contra feiticeiros e demônios. Em outras partes do mundo, era usado como amuleto para aumentar a sabedoria, afastar os fantasmas e outras desgraças. Entretanto, é provável que o coral seja mais conhecido por seu uso, na Itália, como um poderoso anti feitiço e contra o temível mal d'occhio (mau-olhado). O coral é uma pedra sagrada para os povos tribais da Polinésia e ilhas havaianas. No simbolismo dos índios Pueblos, é uma das quatro pedras dementais.

No século XVII, o coral era transformado em pó, misturado ao vinho ou água e ingerido, para purificar o sangue, aumentar a beleza e curar fluxos da barriga, disfunções do útero, ataques nervosos, convulsões, e até mesmo hemorroidas. O coral em pó também era usado nos antigos feitiços contra tempestades e os perigos da alimentação. Como pedra de cura, o coral estimula a energia sexual, auxilia a fertilidade e remove impurezas do sangue e da aura. Também chamado de Sangue dos Deuses, fortalece o sentimento do amor, a necessidade de relacionamento e amizade, protege da influência de pessoas más e invejosas, ameniza depressões, proporciona energia, alegria, vitalidade. Na meditação, o coral nos inunda com maior energia vital e rompe bloqueios espirituais e mentais; nossa circulação relaxa e temos uma sensação maravilhosa de tranquilidade e satisfação. Através do amor que sentimos e compartilhamos, também recebemos mais amor de outras pessoas. Pode ser indicado para a necessidade de relacionamento e amizade, influência de pessoas más e invejosas, depressões, energia, alegria e vitalidade, energia vital, bloqueios espirituais e mentais, tranquilidade.

O coral protege contra doenças infecciosas do sangue. Também protege a mulher durante a gravidez e deformações do feto. Tem efeitos fortalecedor sobre o coração e a circulação sanguínea, o estômago e o fígado, purifica o sangue e auxilia no tratamento dos distúrbios da menstruação da mulher, prevenindo infertilidade e falta de apetite sexual no relacionamento. Doenças infecciosas e do sangue, gravidez, coração, circulação, estômago, fígado, sangue, distúrbios da menstruação, infertilidade e falta de apetite sexual. Com a reputação de ser eficaz no tratamento de males como alergias, artrite, asma, infecções da bexiga, deficiência de cálcio, congestão, tosse, depressão, indigestão, problemas pulmonares e fraqueza muscular.

Fatores, tais como, a poluição, a pesca predatória e o aquecimento das águas, estão extinguindo os recifes de corais, e os que sobrevivem, estão graduadamente perdendo sua coloração original. São raros os corais vermelhos, aliás, sua venda foi proibida tem alguns anos. Na atualidade, o coral vermelho é tingido, mas esse processo químico, não o faz deixar de ser o que é, apenas uma peça alterada pelo homem, que perde parte de sua valia, mas não de sua beleza.

Os “fios de contas” que circulam pelo sagrado das religiões afro-brasileira, que comportam em sua composição contas de corais, identifica a situação e posição de um indivíduo dentro da Comunidade Terreiro. As contas de coral, em especial as de coloração vermelha, são consideradas nobres e conceitualmente de valor hierárquico. Grande parte dos Terreiros Tradicionais de Salvador-BA, somente admitem o uso desse tipo de conta, para aqueles que concluirão seu ciclo iniciático, ou seja, para aqueles que tenham obrigação de sete anos, conhecida entre o povo de santo de ODUN IJE.

Entre a categoria de fios de contas de grande sinal diacrítico, que merece destaque, são os RUNJEVE ou RUNJEBE. Um tipo de colar sagrado, hierárquico, heráldico e condecorativo, de propriedade do JejeCulto aos Voduns, mas que tem sido agregado ao Culto aos Orixás e Inquices. Histórias antigas contam que o tradicional HUNJEBE, era confeccionado com pedras de terra cota, corais vermelhos e um tipo de conta de azul, denominada de SEGI. Com o decorrer do tempo, ocorreu diversas substituições, onde a terra cota foi substituída por miçangas marrom; o coral e o segui por contas de diferentes materiais, preservando a cor e textura de ambas as peças. O principal fator substituto, da terra cota e do coral, se da ao fato do fator sócio econômico, o que não ocorre com os legítimos SEGI, pois essa raríssima conta azul, esta extinta e não mais disponível no mercado, visto que a pedra que dá origem ao SEGI, está extinta a décadas.

Muitas linhagem de descendentes da Nação de Ketu, não agregaram em seus costumes , o uso do HUNJEVE, assim elaborando diversos tipos de fio de conta para serem usados depois da obrigação de sete anos. Mas uma coisa é certa, em qualquer um deles não pode deixar de faltar as contas de corais.

Na Tradição e Cultura dos Iorubás, consideram o coral, um dos seres mais antigos das profundezas dos oceanos, a mais de 450 milhões de anos. Seu verdadeiro nome é ÒKÚTA WÀ YÍ'DÒ – Pedra que vive em colonias, citado em vários mitos de OLÓÒKUN. O palavra ÌYÙN utilizado corretamente para as contas de coral, tornou-se um termo genérico, para a designação do coral bruto e lapidado.

Um ITAN relacionado ao ODÙ ÌWÒRI MÉJÌ (um dos quatro principais signos da criação) relata que o Coral, antes de vir ao nosso mundo realizou uma oferenda, com o intuito de ser recebido na Terra com júbilo, ter o merecido respeito de todos e o título da realeza...

Diversos são os ODÙ que relatam a obrigatoriedade do ÒKÚTA WÀ YÍ'DÒ em assentamentos de determinados ÈSÚ, cito alguns exemplos: em OGBE ÒTÚRÁ relata ÈSÚ OBAKERE e ÈSÚ LALU... em ÒFÚN ÌWÒRI relata ÈSÚ KARUGBO... em ÒÒWÓNRÍN relata ÈSÚ DEKE... em ÒGÚNDÁ OGBE relata ÈSÚ IJELU... em ÒGÚNDÁ ÒWÓNRÍN relata ÈSÚ MASANKIO... em ÒTÙRÚPÒN ÌRETÈ relata ÈSÚ LAJIBORI... em ÒTÚRÁ ÌRÒSÙN relata ÈSÚ LODE... em ÒTÚRÁ Ò relata ÈSÚ ALAWANILEBA... em ÒTÚRÁ ÒFÚN relata ÈSÚ OBINA.... entre outras citações...

Os iniciados em IFÁ que pertencem ao ODÙ ÒFÚN ÒGÚNDÁ, ÒDI ÒWÓNRÍN, ÌKÁ ÒSÉ e ÒGÚNDÁ ÒTÚRÁ tem a obrigatoriedade do uso de fios de corais... assim como os filhos de ÒTÙRÚPÒN ÌRÒSÙN carreguem em seus IDEFÁ as respectivas contas... Um mito relacionado ao ODÙ ÒWÓNRÍN Ò faz menções sobre os pescadores de corais... outro mito ligado ao ODÙ ÌKÁ ÌRÒSÙN relata sobre o Pássaro Ladrão que para fugir do carcere, subornou os guardas da prisão, com belas contas de corais... Um ITAN relacionado ao ODÙ OGBE ÒGÚNDÁ relata que os ÒRÌSÀ YÉWÀ – ÒBÁ – ÒSUN carreguem contas de corais em seus ILEKE...

Assim como em outras culturas, os corais tem suas aplicações medicinais; são amplamente empregados na Medicina Tradicional Ioruba, onde podemos constatar, o uso do pó de coral, em vários ÀGÚNMÚ (Àba – porção + Gúnpò – macerar + – beber); Como seu nome indica, este tipo de manipulação, consistem em certo ingredientes que após serem triturados em um almofariz, são secos ao sol, pulverizados e ingeridos com algum tipo de líquido. Podemos constatar no ODÙ ÒFÚN ÒSÉ a utilização desse pó, para problemas de saúde... em ÒSÉ ÒGÚNDÁ para tratar de tumores no reto... em ÌRETÈ ÒTÚRÁ para melhorar a memória... e várias outras receitas inseridas em diversos Signos de IFÁ.

Em qualquer parte desse mundo, podemos concluir que o coral está associado com as ciências ocultas e seus mistérios. Um símbolo real, aristocrático e de adorno cerimonial.










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